o mauricio_212

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Antes, o desfile. As eminências. Os apaniguados. A estratificação presente. O lento e quase passear pelo jardim, torneando os canteiros recuperados pelas últimas eleições (abençoadas eleições que recuperam periódicos canteiros, aqui e ali, quadriénios aquis e alis) O passar lento, os passos arrastando-se no vagar dos olhos que olham quem está, o tique que os arrasta para o grupo das eminências conversando mostra, denuncia, que mais que verem quem está querem ser vistos estando. Olhos pirilampos, brilham e não iluminam, brilham para serem vistos. O arrastar do cortejo em volta do palco onde os músicos afinam posições e instrumentos, dos canteiros quadriénios, das vidas vestidas em blasée despreocupado de noite de primavera revolucionária: tons claros, quase juvenis, que nos 'outros' dias toldam-se em guarda-fatos paletas de castanhos e cinzentos, suas cores primárias. Os velhos que continuam a vestir o seu luto, prematuros, esses resistem à moda ou não têm, simplesmente, roupa para serões revolucionários.
O músico canta. Canta e sua: vê-se à distância e ouve-se quando à segunda (e antes de mais duas) diz, avisa e previne que vão terminar já já. Cumpre-se o reportório, mas há as velhas (velhas? velhíssimas, por favor!) guardas do rancho folclórico que ainda vão actuar, e só há um palco, lá nos canteiros. Os prematuros... seria por isso? e, mais, avisa, lembra e vai dizendo, há o fogo de artifício que tem hora certa e é noutro local. E é preciso estar-se lá, os pirilampos precisam de migrar, há outros canteiros a regar, há a estratificação, há as eminências e os pirilampos brilham para serem vistos a brilhar. Blasée, por favor; a noite está agradável e amanhã é feriado e agora vamos todos trautear. Trauteamos, canta e sua. Às tantas pensei estar sentado num cinema mas afinal estava de pé e o meu pé batia ao ritmo de venham mais cinco. O pé trauteador. Sentado, assistia ao "baile dos bombeiros" do Milos Forman e só tinha pirilampos para olhar os quadriénios canteiros à espera de ver um prematuro levantar o seu blasée de cores primárias e caminhar-marchar para o palco, venham mais cinco. Não, não vieram.
Veio o rancho, "velhas glórias", eu vim-me (do verbo vir, regressar) para o meu canto, lonely square de paleta particular, e não fiz a romaria. Depois contaram-me que, este ano, o fogo de artifício esteve bem composto e iluminado: terá sido dos pirilampos, afinal é primavera e a noite recomendava-se blasée.
Releio, e recordo o meu pé trauteador. Venham mais cinco. Venham!
(a foto foi encontrada aqui)
Esta noite fartei-me de sonhar com nádegas. O que não me admira, se pensar nas dezenas de anos em que as admiro, seja pelo rabo do olho ou virando a cabeça quando passam. Aliás, a fazer juz ao historial por detrás do sonho e que por certo o induziu, hoje eu deveria ter acordado com um torcicolo no pescoço. Alojou-se nos neurónios da secção 'moralidade', temo que os danos sejam irreversíveis, (felizmente) irreparáveis...
Havia-as de todas as formas, mas sempre com o espectacular formato de pêra, sei lá se 'rocha' ou 'william', por certo fruta bem carnuda e suculenta, atrevo-me a imaginar... Aquelas mais rechonchudas e a que apetece dar uma nalgada malandra, as mais maneirinhas já em apuro de forma para o estio que se aproxima, também as delgaditas que são meninas que merecem sempre um afago, carícia estimulante e antídoto a estrias e outras vilezas que lá, no rabiosque, se alojam, encantador mapa que, em folguedos, os meus dedos gostam de percorrer uma a uma, mapa de vida, fonte de sorrisos mil.
Quando elas saltitam no andar, peneirentas da sua ovalidade e eternas rivais mediáticas das vizinhas de cima, lado oposto, semicerro os olhos como que em mira, centro-os no alvo e lá vou, imaginação desarvorada preenchendo a banalidade quotidiana com este pitéu, graciosa visão amplamente demonstrativa do porquê das fêmeas serem as sedutoras da espécie. Glória a elas, gémeas ninfas, gémeos músculos de tecido que se eriça quando o pretenso predador, ora mero seu escravo, crava mão tal garra em seu redor, elevando aos céus ânsias e ardores, dos tais que só os prazeres do inferno podem sossegar.
Hoje acordei assim e disso aqui dou fé. Nádegas. Rosadas e castanhinhas, tons macilentos ou mais tisnados, e até de rabos sardentos tenho memória de ter sonhado. Não me recordo de ter tomado algum remédio antes de me deitar, ou de ter bebido mais que a conta. Calhou-me. Há momentos assim, só resta estar grato por eles e também deles deixar memória. Como preito às musas que os inspiram, rabos anónimos que cirandam no dia-a-dia, vaidosos ou discretos, mas sempre omnipresentes para olho sensível à sua problemátika.
Resta-me tentar terminar o arrazoado com uma tirada de laivo filosófico, para compor a coisa e se tal ainda é possível...: o que torna o Homem especial é a sua capacidade de Sonhar. Olá se é, rio-me intimamente ao recordar...
(imagem do rabiosque encontrada aqui, alfaiataria virtual, passe a pub)