lonely square
Antes, o desfile. As eminências. Os apaniguados. A estratificação presente. O lento e quase passear pelo jardim, torneando os canteiros recuperados pelas últimas eleições (abençoadas eleições que recuperam periódicos canteiros, aqui e ali, quadriénios aquis e alis) O passar lento, os passos arrastando-se no vagar dos olhos que olham quem está, o tique que os arrasta para o grupo das eminências conversando mostra, denuncia, que mais que verem quem está querem ser vistos estando. Olhos pirilampos, brilham e não iluminam, brilham para serem vistos. O arrastar do cortejo em volta do palco onde os músicos afinam posições e instrumentos, dos canteiros quadriénios, das vidas vestidas em blasée despreocupado de noite de primavera revolucionária: tons claros, quase juvenis, que nos 'outros' dias toldam-se em guarda-fatos paletas de castanhos e cinzentos, suas cores primárias. Os velhos que continuam a vestir o seu luto, prematuros, esses resistem à moda ou não têm, simplesmente, roupa para serões revolucionários.
O músico canta. Canta e sua: vê-se à distância e ouve-se quando à segunda (e antes de mais duas) diz, avisa e previne que vão terminar já já. Cumpre-se o reportório, mas há as velhas (velhas? velhíssimas, por favor!) guardas do rancho folclórico que ainda vão actuar, e só há um palco, lá nos canteiros. Os prematuros... seria por isso? e, mais, avisa, lembra e vai dizendo, há o fogo de artifício que tem hora certa e é noutro local. E é preciso estar-se lá, os pirilampos precisam de migrar, há outros canteiros a regar, há a estratificação, há as eminências e os pirilampos brilham para serem vistos a brilhar. Blasée, por favor; a noite está agradável e amanhã é feriado e agora vamos todos trautear. Trauteamos, canta e sua. Às tantas pensei estar sentado num cinema mas afinal estava de pé e o meu pé batia ao ritmo de venham mais cinco. O pé trauteador. Sentado, assistia ao "baile dos bombeiros" do Milos Forman e só tinha pirilampos para olhar os quadriénios canteiros à espera de ver um prematuro levantar o seu blasée de cores primárias e caminhar-marchar para o palco, venham mais cinco. Não, não vieram.
Veio o rancho, "velhas glórias", eu vim-me (do verbo vir, regressar) para o meu canto, lonely square de paleta particular, e não fiz a romaria. Depois contaram-me que, este ano, o fogo de artifício esteve bem composto e iluminado: terá sido dos pirilampos, afinal é primavera e a noite recomendava-se blasée.
Releio, e recordo o meu pé trauteador. Venham mais cinco. Venham!
(a foto foi encontrada aqui)
2 Comments:
Muito bem escrito! - até te perdôo os habituais pronomes trokados lol, abraço, IO.
É, como diz a Chuinga... Abraço, Carlos.
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