Conto com 4 pequenos capítulos
1
Tinha dois meses e meio e naturalmente que era muito brincalhona. Corria atrás de tudo que lhe atiravam, mordiscava os pés de quem passava e corria a casa toda até se deitar junto a um deles, ofegante, a barriguita exposta e as patitas dobradas, felpuda, sedenta de carinhos que a ela, bebé ainda, lhe sabiam muito bem. Gostava especialmente de dar dentadinhas nos dedos que a coçavam na barriga e se lhe ofereciam, e adorava sentir resistência quando os seus dentitos se cravavam, afiados como pequenos punhais, cumprindo instinto genético que lhe impelia os maxilares a morder tudo o que se mexesse, num treino das suas presas naturais próprio da ainda tenra idade.
E rosnava baixinho, deliciada com estes pequenos jogos de caça, brincadeiras que também eram estimular as defesas que a espécie lhe dera.
Com muita brincadeira à mistura, pois a energia dos tenros dois meses e meio dava-lhe uma encantadora hiperactividade ao corpo ainda minúsculo e todos lá em casa se divertiam a vê-la correr entre as cadeiras e debaixo das mesas, o rabo agitando-se de contente, atrás da bola ou de qualquer coisa que lhe atirassem, que, divertida, caçava até conseguir detê-la e, com engraçada ferocidade, mordiscar até se cansar.
2
Um dia fugiu pela porta aberta para o quintal, que correu cheirando tanta coisa nova, voando sobre as folhas com o nariz encostado ao chão, cheirando, treinando. As folhas secas, que fugiam sobre as patas, atraíam-na especialmente: corria atrás delas, empurrando-as com as patas e mordendo-as até se desfazerem em pedacitos, brinquedos cadáveres que então ignorava e corria atrás doutra, e doutra. Tanta brincadeira!... Foi correndo e brincando, saltou umas pedras e viu a mata em frente, enorme e prometedora novidade: tanto para brincar… qual bonequito de corda, deu uma rápida corrida com o rabito no ar, atravessou os vincos que os carros deixaram na areia quente que as almofadas das patas logo sentiram, e rapidamente desapareceu na folhagem.
3
(é teu. não tens pesadelos?)
4
O céu como que desapareceu com o enorme vulto familiar que corria, enorme, também enorme na alegria de bebé que se via nos olhos, grandes e brilhantes, a húmida língua pendurada numa boca enorme que se abria num sorriso canino, exibindo os punhais que cresciam e brilhavam como lâminas. Num salto caiu sobre o capot dum carro que fez plof e a fez baixar, rápida, o focinho, farejando e a língua tacteando, mas rapidamente desinteressou-se e olhou os bonecos que mexiam, corriam. Queria brincar.
E brincou. Brincou com alegria, juvenilmente trapalhona no movimentar-se no pequeno jardim que parecia desajeitadamente estranho, na casota apertada cheia de pequenos obstáculos na sua perseguição aos bonecos que fugiam, tão engraçados, íman irresistível à brincadeira.
Derrubou móveis e saltou por cima de muros, correu, até que se cansou e foi deitar-se lá fora, no quintal, de barriguita para o ar. À espera dum dedo gordo que a coçasse e para morder, também. Já mordiscara os bonecos todos, todos, não escapara nenhum. Mas eles já não corriam, não brincavam, nenhum mexia.
Rosnou, feliz. De patitas para o ar. Felpudas.
Tinha dois meses e meio e naturalmente que era muito brincalhona. Corria atrás de tudo que lhe atiravam, mordiscava os pés de quem passava e corria a casa toda até se deitar junto a um deles, ofegante, a barriguita exposta e as patitas dobradas, felpuda, sedenta de carinhos que a ela, bebé ainda, lhe sabiam muito bem. Gostava especialmente de dar dentadinhas nos dedos que a coçavam na barriga e se lhe ofereciam, e adorava sentir resistência quando os seus dentitos se cravavam, afiados como pequenos punhais, cumprindo instinto genético que lhe impelia os maxilares a morder tudo o que se mexesse, num treino das suas presas naturais próprio da ainda tenra idade.
E rosnava baixinho, deliciada com estes pequenos jogos de caça, brincadeiras que também eram estimular as defesas que a espécie lhe dera.
Com muita brincadeira à mistura, pois a energia dos tenros dois meses e meio dava-lhe uma encantadora hiperactividade ao corpo ainda minúsculo e todos lá em casa se divertiam a vê-la correr entre as cadeiras e debaixo das mesas, o rabo agitando-se de contente, atrás da bola ou de qualquer coisa que lhe atirassem, que, divertida, caçava até conseguir detê-la e, com engraçada ferocidade, mordiscar até se cansar.
2
Um dia fugiu pela porta aberta para o quintal, que correu cheirando tanta coisa nova, voando sobre as folhas com o nariz encostado ao chão, cheirando, treinando. As folhas secas, que fugiam sobre as patas, atraíam-na especialmente: corria atrás delas, empurrando-as com as patas e mordendo-as até se desfazerem em pedacitos, brinquedos cadáveres que então ignorava e corria atrás doutra, e doutra. Tanta brincadeira!... Foi correndo e brincando, saltou umas pedras e viu a mata em frente, enorme e prometedora novidade: tanto para brincar… qual bonequito de corda, deu uma rápida corrida com o rabito no ar, atravessou os vincos que os carros deixaram na areia quente que as almofadas das patas logo sentiram, e rapidamente desapareceu na folhagem.
3
(é teu. não tens pesadelos?)
4
O céu como que desapareceu com o enorme vulto familiar que corria, enorme, também enorme na alegria de bebé que se via nos olhos, grandes e brilhantes, a húmida língua pendurada numa boca enorme que se abria num sorriso canino, exibindo os punhais que cresciam e brilhavam como lâminas. Num salto caiu sobre o capot dum carro que fez plof e a fez baixar, rápida, o focinho, farejando e a língua tacteando, mas rapidamente desinteressou-se e olhou os bonecos que mexiam, corriam. Queria brincar.
E brincou. Brincou com alegria, juvenilmente trapalhona no movimentar-se no pequeno jardim que parecia desajeitadamente estranho, na casota apertada cheia de pequenos obstáculos na sua perseguição aos bonecos que fugiam, tão engraçados, íman irresistível à brincadeira.
Derrubou móveis e saltou por cima de muros, correu, até que se cansou e foi deitar-se lá fora, no quintal, de barriguita para o ar. À espera dum dedo gordo que a coçasse e para morder, também. Já mordiscara os bonecos todos, todos, não escapara nenhum. Mas eles já não corriam, não brincavam, nenhum mexia.
Rosnou, feliz. De patitas para o ar. Felpudas.
(imagem sem link: já não me recordo de onde a encontrei)
5 Comments:
Giro - beijo, muf'.
:-)
Tenho saudades dos meus gatos, mas tenho alergia.
Que feliz regresso. Sou franca que só encontreo (O Vazio) hoje. Mas estou contente!!! bjs
Os Bichos - como nos encantam.
Como sabem "fazer germinar" ternura na gente.
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