O grau mil da escrita*
(a IO deu-me o pretexto, neste post)
Há a imagem recorrente que persegue o escritor, e digo-o tão até por estar constantemente a vê-la/lê-la, em mim e nos outros: o silêncio da caneta poisada na mesa, imóvel, seca de tinta sua que anime a triste alvura da odiada virgindade da folha de papel.
Não que eu acredite que quem já escreveu tenha em inesperada desgraça deixado de compor mentalmente textos ou proto-textos. E tantos felizes ou prometedores, que depois se esvaem nas ridicularias que asfixiam os dias ao criador. É mais que um hábito ou um vício, é a forma de existir do escritor, de viver olhando em volta, diferente no seu olhar cobiçoso que em tudo lê pretextos para perseguir o seu grã-texto. Uma doce ilusão.
Pegar na caneta e rasgar a folha para contá-los, autografando-os, eis o drama, a preguiça e os medos, a diferença entre o conseguir subir às estantes ou ficar pelo confortável banco de leitor, essa espécie intermédia entre as iletradas formigas palradoras e os magos que produzem a sua vianda.
Algures situar-se-á a famosa "gaveta", túmulo de promessas adiadas, inglório jazigo de tanto texto vivo e erradamente diagnosticado como morto. Liberdade para eles: nenhuma tinta é gasta em vão! as letras hoje soezas, trôpegas num alinharem-se indolente, são retratos de momentos, frescos iguais a este e a milhões iguais, que segundo a segundo são paridos por canetas que saltaram para a mão e desfilaram linhas-letras, palavras e frases, escreveram.
E, pergunto eu que escrevo e leio, a ti que escreves e lês: haverá outro autógrafo de escritor além dos seus escritos?
Há a imagem recorrente que persegue o escritor, e digo-o tão até por estar constantemente a vê-la/lê-la, em mim e nos outros: o silêncio da caneta poisada na mesa, imóvel, seca de tinta sua que anime a triste alvura da odiada virgindade da folha de papel.
Não que eu acredite que quem já escreveu tenha em inesperada desgraça deixado de compor mentalmente textos ou proto-textos. E tantos felizes ou prometedores, que depois se esvaem nas ridicularias que asfixiam os dias ao criador. É mais que um hábito ou um vício, é a forma de existir do escritor, de viver olhando em volta, diferente no seu olhar cobiçoso que em tudo lê pretextos para perseguir o seu grã-texto. Uma doce ilusão.
Pegar na caneta e rasgar a folha para contá-los, autografando-os, eis o drama, a preguiça e os medos, a diferença entre o conseguir subir às estantes ou ficar pelo confortável banco de leitor, essa espécie intermédia entre as iletradas formigas palradoras e os magos que produzem a sua vianda.
Algures situar-se-á a famosa "gaveta", túmulo de promessas adiadas, inglório jazigo de tanto texto vivo e erradamente diagnosticado como morto. Liberdade para eles: nenhuma tinta é gasta em vão! as letras hoje soezas, trôpegas num alinharem-se indolente, são retratos de momentos, frescos iguais a este e a milhões iguais, que segundo a segundo são paridos por canetas que saltaram para a mão e desfilaram linhas-letras, palavras e frases, escreveram.
E, pergunto eu que escrevo e leio, a ti que escreves e lês: haverá outro autógrafo de escritor além dos seus escritos?
1 Comments:
Que não pense o leitor do Gil que lhe estou a chamar carapau, mas, a verdade, é que, este mangusso, mesmo quando fala de carapaus, escreve bem! - é o que salta à vista, linha a linha, neste texto que não é, de todo, sobre carapaus... Obrigada ao escriba, uma que não é de todo de 'gaveta', mas de textos que começa, não acaba e, depois, ficam fechados em ficheiros esquecidos.
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