quarta-feira, janeiro 31, 2007

livro "Xicuembo"



Da editora disseram-me que ainda há exemplares em stock, sobras das vendas nas livrarias.

Assim, se estiverem com vontade de "espreitar o Gil", mais as suas memórias de Lourenço Marques, as encomendas são aqui e fica ao mesmo preço que na livraria: catorze €uros, pois os portes de correio são por conta dela; ou seja: paga-se o mesmo (por cobrança postal) e recebe-se o book em casa...


Recuso a quietude que me banaliza
A vulgaridade repugna-me
A perfeição seduz-me e ao mesmo
tempo enfastia-me

Maria Teresa Horta, "Inquietude", Edições Quasi, 2006

(bela imagem daqui)

terça-feira, janeiro 30, 2007

caçado! :-)


... e depois dizem que vão "ver as máquinas"... pois pois!...
E não, não sou eu na foto nem conheço o mangusso de lado nenhum. Nem a pita...

1x2


Abriu "oficialmente" a campanha para o referendo à despenalização da IVG, quando feita até às dez semanas de existência do feto. E nem mais um dia, diz a pergunta. Entrei em reflexão profunda para me decidir, horas extraordinárias e tudo.
Senão abstenho-me ou faço voto inválido, não vá levar a minha carcaça estocada fatal numa coisa que já cá anda há muitas dez semanas multiplicadas, e que estimo: nunca votar no que não se 'acredita' ou, ao menos, 'seduziu'.
(imagem de "esgrima" goggle-encontrada aqui.)

bom dia!



(as bonitas flores silvestres foram colhidas aqui)

segunda-feira, janeiro 29, 2007

ode a Capablanca e às mangas verdes com sal


naquele século,
em que gostava tanto de mim
(e só de mim)
e me achava um grande jogador de xadrez
(outra vez sussurrado: sábios catorze, aqueles
dos doces anos)

aprendi a jogar t’chuba e, nas covinhas
entendi o segredo do "mate de Légal":
sê-lo sábio
era ser capablanca africano.

t’chuba!

.............
(de agora, ainda queima; inspiração que lá calha acontecer-me quando me sento aqui, num banquinho, entre outras rimas procurando o caminho até à mangueira, um niquito de sal na algibeira. thanks por tanto, L.)

mini glossário, mais umas coisas:
1- t’chuba: (assim eu me recordo do seu nome) jogo tradicional africano, jogado em tabuleiros com pedras que se colocam em ‘covinhas’, ou estas mesmo feitas no chão; recordo-me do seu nome com esta forma fonética e não encontrei (em busca muito sumária, mas fi-la) conclusão satisfatória sobre, até mais que a grafia correcta, o seu verdadeiro nome no sul moçambicano. inclusivé os referidos no poema de Rui Knopfli cuja leitura me deu o 'clik' poético, "O Curandeiro" (clicando lê-se), não correspondem à minha memória fonética do nome comum do jogo;
2- Capablanca: histórico campeão de xadrez com 'n' referências nos livros teóricos. até já o vi referido como o Mozart da arte;
3- "mate de Légal": atribuído a um tal duque de Légal; fantástica estratégia para xeque-mate sem defesa possível após um acto de gula oferecido ao adversário e por ele 'devorado', logo no início do jogo. no tabuleiro de ensaios e livro à frente, é estarrecedor de belo. na prática acho que só apanhei um tanso que caísse nele. não me importo de tentar explicá-lo, mandem e-mail (escrevo xadrez nas 'duas' linguagens mas prefiro a brasileira)

(a imagem tem inscrito o 'copyright' de onde a 'catei', e seu autor)

leituras 'on route'


Paulina: continuo a sorrir enquanto te leio. E isso é bom, bem-vinda às minhas estantes.

(imagem daqui)

domingo, janeiro 28, 2007

África Surge et Ambula



(África Ergue-te e Caminha)

Foi assim dito, poetisado, por Rui de Noronha nos anos 30's do século XX. Anos invulgares para se falar assim, todos reconhecerão mesmo que tenha sido gritado em palavras maiores, as de Poeta.
Rui de Noronha, poeta moçambicano, o primeiro da 'poesia moderna' desse país segundo sempre li, falecido com apenas trinta e tal anos. Sem mais biografias sejam elas das curtas ou das estendidas pois, se a frase não espicaçou goggles-curiosidades a quem dele nunca ouviu falar, também eu vou um dia destes deixar aqui alguma coisa referente.
Recebi hoje o livro com o nome deste título (ed. Espaço Rui de Noronha Associação - site um bom bocado desactualizado, fica o reparo...), um pouco prematuramente pois o lançamento será dia 7 de Fevereiro e às 18 horas, na embaixada de Moçambique aí para os lados da antiga RTP e do Campo Pequeno.
O livro vem com um 'cd' onde, principalmente pela filha, Elsa de Noronha, declama-se a sua poesia e, também, há prosa sobre ela e o poeta além de 'depoimentos'. Ainda não sei quando custa mas, pelo documento que é, é pagar o que for que também não há-de ser assim tanto que.

Deixo o poema "...Surge et Ambula", que a Elsa tão bem declama:
....
Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.
Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E tu dormes no outro o sono teu infindo...
...
A selva faz de ti sinistro eremitério
Onde sozinha à noite, a fera anda rugindo...
Lança-te o Tempo ao rosto estranho vitupério
E tu, ao Tempo alheia, ó África, dormindo...
....
Desperta! Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e de beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente em carne de sonânbula.
....
Desperta! O teu dormir já foi mais que terreno
Ouve a voz do Progresso, este outro nazareno
Que a mão te estende e diz: África, surge et ambula!
....

Nota: esta é a 'versão A' deste poema; segundo leio são conhecidas cinco, contando com esta.

cinema - "O jardim de outro homem"


Porque hoje levantei-me cedo (é domingo, costumo 'pastar' na cama até às dez, às vezes onze) fui até à sala comer o iogurte matinal e fumar o primeiro cigarro. Faço-o muitas vezes ao longo da semana e é aí, então a essa hora bem mais cedo que hoje, que eu vejo a minha única televisão do dia: as notícias matutinas e as primeiras páginas dos jornais. Hoje, por ser mais tarde e por ser domingo, a programação é diferente e, assim, vi a parte final dum programa informativo sobre África (RTP1).
E vamos à razão do post: vai estrear cá dentro de dias um filme que eu quero ver se não perco, embora não saiba ainda bem como pois, certamente, não será incluído no grande circuito comercial, não é candidato a Óscares: "O jardim de outro homem" do moçambicano Sol de Carvalho, rodado muito recentemente em Maputo. Trata-se, tão só, da terceira longa metragem moçambicana desde a independência - aprendi-o na notícia.
Nem que fosse pelas imagens da minha já quase esquecida cidade de cimento, já valeria a pena vê-lo. Mas, ao pouco que vi, há mais, muito mais: a vida dentro da cidade, as pessoas, as suas caras, até o cheiro da cidade pareceu-me senti-lo naquelas fugazes imagens. Para além da sua estória, do argumento, que esse será como todos são, sejam rodados na Caparica ou em Hollywood: uns prendem e outros não. Mas, este, quero vê-lo por mais razões, olá se quero...

(a imagem, com resumo do argumento e ficha técnica, estava aqui)

gostar de mim


Tenho o melhor blogue da minha rua!

(smiley daqui.)

omoletas do Site Meter



Não há bloguista com contador de visitas no seu blogue que não tenha curiosidade sobre as palavras-chave que lá trazem clientes, algumas bem inesperadas e inocentes ao lado das outras, as naturais quando se tem um blogue temático ou, já de tal ouvi falar, as palavras que se vão semeando nos textos-posts, geralmente cifradas em temas de interesse na actualidade mas, até, sem ligação directa ao facto ou acontecimento, e que aparecendo no motor de busca trazem clientela. Ouvi, juro.

Ora, cá a mim e ao tasco, um dos meus hit's é o post sobre a minha desgraçada omoleta: seja à procura de "ovos mexidos", "receita com ovos", "como fazer uma omoleta" ou coisa parecida, não haverá dia em que cá não caia um incauto armado em freguês para saber como é. Já agora que não a esturriquem, pois a minha omoleta como "ovos mexidos" come-se muito bem, uns respingos de mostarda em cima! Boa sorte eh eh

(foto gamada neste blogue de receitas, olé!)

...e já é Domingo!

Maybach Exelero, de 2006

Delahaye 235M com carroçaria Ghia, de 1950

Duesenberg Model J, sedan by Derham, de 1929

Ora bem, não tarda está o fim-de-semana no fim e o Gil nada de pôr aqui uns carritos!... - já haverá quem o tivesse dito, a esta hora! Para compensar o atraso ficam esses três acima, que o tempo está frio e há que passear-se agasalhado.
Espero que gostem, escolhi-os por serem de três épocas estilísticas muito diferentes. E não os risquem, por favor!

(as fotos de carros normalmente trazem gravado o nome do site onde foram 'catadas' ou do autor da 'pilingrafia': é o caso duma destas. as que não o trazem... sei lá eu agora!)

sábado, janeiro 27, 2007

lembrando-me (literatura erótica)


Catherine Millet é a mulher com "o maior par-de-tomates" de que me lembro, assim de repente que me lembrei dela ao passar-me pelas mãos o seu "A vida sexual de Catherine M." (Asa de bolso). E acho-me justo na aposição de tão robustos apêndices em tão garboso peito de pena-de-pato, eis a verdade: quando lhe sopeso o livro estou a sentir muito mais, a dimensão doutras coisas que vêm naquela escrita e entre elas a da palavra 'coragem'. Millet fê-lo, contou ao pormenor o seu passado de puta, não para ascender a nada na puta-da-vida. Se acontecesse, ela não 'subia': só podia mesmo era descer pois, fê-lo, editou-se assim, nuazinha, como chefe de redacção duma revista de artes, e ensaísta conhecida e julgo que reputada, no tema. Fê-lo. Sem medo às pedradas, desnudou-se uma puta duma última vez: está aqui na minha mão.
Bem, e como é que se anda, como é que dou por mim assim, num sábado à noite, por prateleiras tão... tão... tão o que são e a carga que levam? primeiro via Fourier e o seu "Manual analítico da corneação", da & etc, aqueles cadernos fininhos. Daí, porque veio quase agarrado passei para Quevedo (que desconheço se avoengo do man da revista K, já lhe aviei o book das crónicas e foi em menos tempo do que eu esperava, azar), "Graças e desgraças do olho do cu", e levantei-me da secretária. Tinha ido buscar o Ch. Fourier por causa do "Rol de Cornudos" do Cela, o Nobel espanhol dos maus fígados e que tem coisas bonitas para ler, quase sem se dar por isso.
Lá, no coio, havia Miller's dois ou três, "Manual de Civilidade para Meninas", Pierre Louys, em cima do "O Meu Pipi" (Oficina do Livro); "o relatório Hite"; o "Cunnus", Antígona, de Alberto Hernando, e o homónimo na fixação fonética, "Conos" de Juan Manuel de Prada, da Fenda; depois "A Pérola" de autor anónimo e uma mistela que nem para masturbar presta (Europa-América) e eis, de Sacher-Masoch, "Theodora". Tempus Editores, já agora o registo. Pausa, fui fumar um cigarro. Está lá outro do mesmo, "Don Juan de Kolomea", Antígona. A Millet. Duvido que eu tivesse tomates para o ter feito, eu se fosse ela: é um dos livros que, na mão, pesa-me além do tamanho - páginas de bolso, já referi. Por isso gosto tanto deles. Meus livros, meus documentos e também registos de mim, do que sinto através de cada um, o que penso quando os leio, os arrumo, os sei aqui, ao pé de mim... registo central e em palavras tantas vezes lindas da construção de mim, via as dos outros. Lendo-os inicio as minhas, falo de mim, seja num romance policial 'bem esgalhado' ou, como calha agora, no tal cantinho mais dissimulado das prateleiras.
A Millet teve mais tomates que qualquer um deles. Aposto. Nem o Miller mais a Annais, gosto muito do Péret e dou-lhe a leitura que merece e tiro o chapéu à fotografia das primeiras folhas do seu "Os tomates enlatados" (da Antígona, com pruridos editoriais que nunca entendi: reservam para a pág. 3 o título original, "os colhões enraivecidos") pois - voltando à foto e por causa dela - é documento histórico que fala muito sobre o gérmen dalguns movimentos surrealistas e outros depois, que todos bebem na mesma fonte que é a contestação e o ataque ao imobilismo, ao conservador, às instituições e suas representações pois elas estão sempre tomadas de assalto e posse por esses ilustres atrás ditos, que na foto Péret insulta publicamente um duma, na rua: um padre. Mas, Millet e Péret, mesmo atentas as diferenças de épocas e evidente passo de gigante que a aceitação social deu relativamente a comportamentos 'excêntricos', que é obviamente favorável à conterrânea Millet, mesmo assim acho que ela arriscou mais com a edição deste livro de memórias que o bom do Benjamin, corpanzil de homem e nada pequeno olhando bem a foto, insultando o cura mal o via assomar à esquina da rua - como atitude ideológica, sei-o. Reparo que guardei dois ou três daqueles livritos que costumam vir como suplemento às revistas 'para homens', quando a libido literária dos machos nacionais anda por baixo, e há que estimular as vendas: "Sexo: o guia para o homem" da 'Men's Health', e mais dois assim inarráveis e infotografáveis.
Para despachar o resto e guardar a Millet: "Os infortúnios da virtude" do Sade, velhinha edição Minerva de bolso, ainda com a sobrecapa de plástico, "A Fermata" de Nicholson Baker, Bertrand, romance estranho e que me deu vontade de um dia ler o outro que sei dele, "Vox". Lá calhará quando for. "Léxico do Erótico", em capa dura vermelha e letras douradas, ainda da Bertrand: deste lembro-me bem, pois é o único livro que roubei em toda a vida e de que fiquei sempre com um enorme amargo. Sim, roubava alguns antes. Nunca terei dado prejuízo pois compro-os aos quilos, e por todos os lados. Mas, às vezes, lá nas salas mais vazias dsa livrarias e fazendo contas ao dinheiro já com alguns impossíveis de não levar na mão, escondia um debaixo da camisa. Este gamei-o na papelaria do Manuel Castela em Santarém, princípios dos 80's. Era muito caro, eu não podia comprá-lo na altura. Foi um impulso mas foi um impulso mau, este pesa-me nas mãos, como agora. O Castela era dos tipos 'cotas' mais 'impecáveis' que conheci em Santarém. Até chego a pensar que, se tivesse falado com ele, ele emprestava-mo se eu queria assim tando lê-lo. Ou pagava-o em prestações ou, até, se calhar, até mo dava. Foda-se. Adiante, ainda cá estão dois para fechar o confessionário e ir fazer uma penitência qualquer: de Teixeira Gomes "Duas Novelas Eróticas", Contexto Editora (nunca as li, embora fininhas, um dia destes vai); do escritor-ciclista Alfred Jarry (ed. Afrodite) "O Super Macho", livro que tive-meu em África e portanto ainda no final da adolescência, e que cá em Portugal recuperei para a minha reiniciada biblioteca logo que pude e cá se mantém, avé. Os desenhos das páginas inicias, tinta-da-china ao que me parece, sempre me acompanharam na memória: não abro este livro há anos e anos (hoje foi a sua noite de regresso aos meus dedos) e, um deles a exemplo, foi o registo de memória que esteve na criação dum dos meus 'quadros', na falida minha fase-polivalente (o tal de título "K" que, afinal e no meu abecedário das cores era a letra "M", aqui) Mais ainda, um certamente interessantíssimo "Prazeres Eróticos e Sensuais: um guia prático", de Ruth K. Westheeimer e Louis Lieberman, Europa-América, que como não tem bonecos nunca li e, desconfio, lerei.
Estou também desconfiado que há por aí 'umas coisas' que, bem procuradas, juntavam-se a estes. Mas sem pressas: eles acamam-se e acasalam-se naturalmente, e há tempo. Muito tempo. Entretanto e até lá, conto em breve estrear-me na crítica cinematográfica com a minha leitura memorial do maior dos maiores, o melhor filme porno que vi em toda a vida: "mete o teu diabo no meu inferno", visto farão agora trinta e um anos e no cinema da Rua das Portas de Santo Antão, Lisboa, quando lá retornei vindo de Lourenço Marques. Fenomenal, e uma destas noites calhará contar-vos porquê.

Fim de post: Três vivas muito merecidos à Catherine Millet!
(foto da capa do livro daqui)

Há um ano escrevi isto. Mais coisa menos vírgula, está actual. Estou igual, só mudou a roupa do blogue e, este Janeiro, está mais frio.

(imagem daqui.)

sexta-feira, janeiro 26, 2007

" - que andas a ler?"


" - as 'Respirações de Marat', do Miguel"

" - que é isso?"

" - coisas lindas, respirações dum poeta da prosa... acho que posso dizer assim..."

" - emprestas-me para eu ler?"

" - é por e-mail, tens de lhe pedir que 'tas mande também"


(outro 'Miguel', mas duvido que tão excelente, encontrei-o aqui.)

as "tentativas de conciliação", e as tábuas de queijos acompanhadas dum bom tinto


Esta veio à memória a meio duma conversa telefónica, daquelas que começam em alhos mas rapidamente passam aos bugalhos, sempre a parte mais interessante da estória... Veio a propósito de mais uma discussão serôdia sobre "o referendo" - e digo 'serôdia' pelo meu lado pois, por mais volta que lhe dê e opiniões que ouça, ainda não me consegui decidir. Lá irei. Agora é "as tentativas de conciliação", judiciais claro é, e do conforto e ajuda que trazem às mesmas uma tábuasita de queijos sortidos, uma botelha sem olhar a custos a acompanhá-la: não havia advogados presentes.

Por certo nos primeiros anos de 80's, tribunal daqui da zona; edifício que não engana ninguém que o olhe e, conta-se, construído pelos seus clientes mais fiéis, só me restando a dúvida de se o arquitecto também vestia às risquinhas: se não, é a prova em pedra de que a Justiça sempre esteve mal neste país, não é só d'agora... bem, deixo-me disso e passo a contar.

Não foi num divórcio: digamos, eufemísticamente, que foi numa das suas ramificações, acerca dos ramos que nascem ao tronco quando ele bebe a água do Éden e que, ao Outono das ilusões, ficam pendentes: o lado mais triste e penoso desse rachar de tronco comum, ao qual a Lei reconhece, com sensibilidade, importância capital. Tanto assim é que lhe concede, - lhes concede, aos litigantes... - a obrigação, o dever, de tentarem a reconciliação, o acerto das enormes diferenças individuais que, lá sentados naqueles duros e toscos bancos de madeira, construídos sem nenhum respeito ou memória pelo 'senhor que se segue', aí se menorizam tantas vezes àquilo que, afinal, tanta vez são: 'manias', as mesmas que não foram pára-raios ao rachar da árvore mestra do jardim sonhado.

... e, então já lá dentro do gabinete do Juiz - que as 'tentativas' e seus arremedos e floreados são feitas ao recato dos velhos reformados e das peixeiras da praça já com o carapau vendido - vem a tal fase sacramental do Juiz se fartar de ler articulados de lamúrias. e olhar-nos, e sorrir, e tirar a pergunta da algibeira (é ainda sem a beca): "- e vocês já falaram bem sobre isto? já tentaram entender-se? é que - olhem - a mim parece-me que isto resolvia-se se ambos se falassem, se entendessem... reparem: é só a) + b) e + c) e temos aqui já praticamente feito o acordo e arruma-se com o processo, já!"

Falinhas mansas e cus doridos. Conto também que, 'antes', lá nos tais bancos duros como devem ser as mãos que os fizeram - só me lembro dos Dalton a partir brita quando olho para aquele monstrengo semi-helénico semi-estado-novo semi-o-raio-que-o-parta que está no cimo da avenida - e, entre olhares que ainda se adoçam à mínima piscadela, já ambos interiorizáramos "mas o que é que estamos aqui a fazer...". Portanto o 'sabidolas' do Juiz já reparara que aquilo, peças do processo com artigos e alíneas à náusea, era muita parra para tão pouca uva: dê-se-lhes um pouco de tempo e habemus menos um, e dos 'bons'. Aliás, só não entráramos no gabinete do Magnânimo de mão dada pelo respeitinho ao mesmo e, também, os tais à bê e cê.

Vai daí um sugeriu e outro logo abanou que sim, que nos dé-se uns minutos para, a sós, nós podermos conversar a) + b) + c). Dito, despachado e ninguém meteu recurso: saímos para o hall-gaiola de exposições e má-língua, demos de caras com os bancos e, românticos que éramos, claro que sentimos um instintivo incómodo em pensar que íamos, novamente, sujeitar os nossos elegantes rabos àquele tratamento de polé, que nem o Rantanplan teria permitido aos seus desconsolados guardados. Com naturalidade 'saímos lá para fora', descemos à rua e já nas escadas o b) parecendo longe e inútil demais, quando o que se pensava era noutras letras e as leituras eram outras... 'the same old story', e o Juiz já era macaco velho, cliente dos galhos das 'tentativas de conciliação'. Principalmente aos que, literalmente a arrancarem-se cabelos segundo os papéis em cima da secretária, só não entraram no gabinete de mão dada pelo imenso e judicial respeito que tinham ao edifício e aos seus habitantes, mais ao raio dos inqualificáveis 'bancos'. "- Ok, vão lá fora combinar isso e daqui a bocado continuamos".

Sabe quem conhece e se lembra, que na tosca rua que desce quase ao lado do tribunal para o bairro de S.Domingos, havia, logo à entrada e em desnivelado com o passeio, um simpático restaurante que, na banalidade do ter de comer fora todos os dias, nem aleijava muito e até costumava agradar: é do tempo em que comida 'caseira' de restaurante não era ainda arroz de feijocas com tudo, havia galheteiros e servia-se vinho à jarra. Bem, não foi à jarra e veio com os queijos.... à época, o aprazível pasto era gerido por um ex-emigrante, 'da Bélgica' dizia-se, atestado sussurrado como de entendido pois, lá à Flandres, o man fora escanção e até gerente de restaurante que, se não o era ou fôra, tinha-se por afamado. Hoje, ali, a 'tentativa'. Ali - e nós lá! sentados e acamadas aquelas gostosas partes, veio a carta e falou-se, este p'ráqui este p'rácola, os olhos conversavam-se e o emigrante sorria: finalmente alguém aceita a sua sugestão dum tinto sem espreitar o lado direito da carta, e ele não fora parco nem modesto na escolha pois a tarde ia quente e aqueles - via-se... - tinham em muito mais que pensar, havia no ar outros palatos sequiosos, salivantes... (outro 'macaco velho', estava a conjura montada... eu conto:)

Caramba!... como é bom viver! mordiscar aqui e ali, um tragosito e um sorriso, sabores únicos!... a, depois a + b, c e o mais que fosse: a tarde parou ali, perfeita e cheira de odores e sabores, e assim se fez Justiça à tábua mai-lo vinho... A folhas do processo, horas e minutos que já não se sabiam, celebrou-se e brindou-se à 'tentativa de conciliação' conseguida, ao sucesso e ao enterro do processo judicial, certamente prazer também para ele, o homem da capa preta. E é quando esses pormenores vêm à cabeça, as horas e os minutos que se materealizam quando a garrafa está já no fim e dos queijos só restam as cascas, junto à conta que nem se regateou - não havia advogados, recordo-vos -, que nos lembramos do Senhor-à-nossa-espera e foi num pulo de mãos dadas que subimos a escadaria a tresandar a queijo, vinho, e outros odores excitantes, e fomos directos ao fuinha dos papéis para ele avisar o 'Senhor Doutor Juiz' que havia sim, havia 'acordo' em a), b), c), e mais umas coisas que não lhe contávamos - por agora; e o Futuro só lhe pertenceria quando os 'seus papéis' derem oficialmente entrada, formato e timbre de selo e em triplicado. Veio a acontecer mais tarde mas não naquele sagrado e apaladado momento.

Aqui foi o fim da macacada, já que esta estória navega no jardim zoológico (navega? ok, deserasquem-se vocês)... o homem do bibe preto estava 'piurso'... a essa hora certamente até já mandara colegas reforçarem a equipa de construção civil e demolições dos Daltons, tivera até tempo para ensaiar o discurso com que nos recebeu: deu-nos e leu-nos das boas, furibundo! é que nós nunca imagináramos duas coisas, assim: primeiro, que a tábua e a botelha demorassem tanto tempo para serem devidamente namoradas; segundo, que tal coisa de hora-e-meia duas horas fosse levada tanto a peito por quem não comeu nem bebeu e só resmungava... quando soube do banquete no hiato os olhos faíscavam!...

Despachado e lavrado o acordo entre encabulados 'sim' e 'não' a que, corados, respondíamos às perguntas do Ilustre, a sentença teve final já engatilhado pois foi lido em tom sarcástico-cruel pelo Meritíssimo, enquanto a seu fim rabiscava: "vão os requeridos condenados 'x', cada um, a título de multa do artº não-sei-quê de código não-sei-quê, pelo atraso na comparência na sessão de continuação da diligência, embora avisados". Um xis que foi um raio, pois ele deu-se sérias parecenças ao outro, ao belga dos queijos e avental à cintura... em 'custas', coisa p'raí duns dois contos a cada, um balúrdio, um desperdício quando se pensava o que esse dinheirinho faria com certas ementas que, até, faziam nascer acordos e outros salivares...

'tentativas de conciliação', pois é... Hoje, é bonito recordar estes episódios, continuo é a embirrar com o mastodonte sem jeito do edifício quando lá passo; e, quantos aos bancos, nem pensar em me lá sentar... foi-se "o belga" mas veio o sucedâneo e há por ali outros, tempos já houve que, lá em volta do tribunal e da praça, eram quase porta-sim porta-sim... Haja 'tentativas' e dinheiro para as custas, que, querendo, vinho e queijo sempre se arranja!
(post a lembrar-me 'do Juiz': ele tinha do nos pagar, 'tá feito! :-)

Nota da redacção: há boas-almas na terra, tanto que algumas dizem que chegam ao céu, e nos blogues também as há. Estou avisado de que, algures por aí lençol acima, há advérbios que 'não são sempre assim', como mui liberalmente por mim usados. Este reparo serve de correcção então ao erro.
Quantos aos outros, ao meu banal, parece que nada haverá sem ser alguma letra trocada: estou a melhorar. Eu, campeão dos erros gramaticais (e até ortográficos...) e já quase sem-vergonha deles: os meus pronomes que deixam-de-o-ser já são conhecidos, fora o resto, aquele imenso resto em que então, quando calham-me, há quem deseje dar-me reguadas, sei-o bem! :-)
Tudo fixe. Se calhar sem dá-los tanto assim escrevia menos, era mais 'sintético' e, palavra, não me vejo-escritor à la post de linha-e-meia e já está: além de que é 'muita difícil' comprimir sem deixar escapar nada de grave, gosto do desenrolar do 'testamento', do desdobrar do 'lençol'... estender as ideias, contá-las, zurzi-las ou acarinhá-las conforme elas se espreitem...
Claro que gostava de dar menos erros... Caramba! como há vezes em que fico mesmo envergonhado! mas... Ultimamente arranjei esta máxima, e ainda não a gastei: "o que é é, e não vale meter no bolso o que está à vista". Mas, sei-o e parece-me legível, dou-os menos e, portanto, estou a melhorar com estas lembranças atentas. O devido Grato.
(vamos lá a ver se ainda me safo ao que realmente me preocupa, as reguadas...)

"Web"


(por agora sem foto, já estou aqui há tempo demais; mais tarde procuro uma coisa qualquer. adenda: corrigido o texto, desenrasquei uma tábua de queijos aqui, e a carantonha do homem das multas aqui.)

LE-1





Sim, eu sei: ainda não é Sábado!... ;-)
Mas como hoje me levantei mais cedo, bem cedinho aliás, acho que nada melhor para 'espertar' e começar bem o dia que o rugido do LE-1 "Ground Fighter", uma 'besta' aparecida em 2002 que tem motor Lexus* V8, turbocomprimido e com à volta de.... dois mil cavalos-força!... teoricamente 'dá' 600-seiscentos-600 quilómetros por hora; mas desconheço se algum maluco já o conseguiu... é um "concept car", não foi criado exactamente para corridas de semáforo ou idas até ao Guincho, domingo de manhã...
Enquanto vocês dão uma voltinha vou até à cozinha fazer um café, para me chegar aqui a uns papéis daqueles que já estão amarelos de tanto olharem para mim... :-(

*Lexus: os Toyota americanos, carros luxuosos e de bom-gosto que quase nada têm a ver com a lataria jap' - salvo pouquíssimas excepções, pfff...

(arranjei as fotos quase todas aqui.)

quinta-feira, janeiro 25, 2007

suspense!


O campeonato vai aceso. O país divide-se. "José" ou "Ronaldo"? qual será o Campeão? só podendo haver um, qual merecerá a vitória no imaginário nacional de "grandes portugueses do quotidiano", da vidinha?
Além fronteiras - chiça, que frase!..., referenda-se o fado, portuguêsmente falando.

(no Goggle carreguei "intelect x muscle" e saiu esta caixa de ferramentas. Aqui. Fica.)

eu assinei


... entre outras coisas porque eu gostava de ser também General se, um dia, assim...


(imagem goggle-encontrada sob tema 'criança', aqui)

bom dia!


Canção infantil

Era um amieiro.
Depois uma azenha.
E junto
um ribeiro.

Tudo tão parado.
Que devia fazer?
Meti tudo ao bolso
para os não perder.

Eugénio de Andrade, "Primeiros Poemas" in 'obra de Eugénio de Andrade/1', Ed. Limiar, 2ª ed. de 1978
(foto daqui)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

falsos alarmes

Outra noite passada no hotel mais impopular. Felizmente desta vez era alarme falso, ou semi-falso: para além das dores as minhas 'tripas' estão a aguentar-se via 'doses de cavalo', que foi reforçada. Entrei de dim-dom-dim à uma e saí pelo meu pé, de pijama e roupão, eram oito da manhã. Cansado. Farto. Farto de doenças, hospitais, remédios, até dos médicos e enfermeiros, aqueles afinal que têm sido os meus melhores amigos para aguentar esta f-d-p do "Crohn".
Desculpem o desabafo, mas estou FARTO.

terça-feira, janeiro 23, 2007

a maçã do vaidoso



Elogiaram-me esta frase. Também gosto dela e fiquei contente :-)
"Eu não pensava nas maçãs. Eu quero ser confundido com um poeta, quero ser conhecido como escritor. Eu pensava em mangas verdes com sal, as tais de que me lembro e o Poeta da ilha também."

(mesmo a apetecer dar-lhe uma dentada, rilhá-la, encontrei esta bela duma maçã aqui.)

"Louvações das línguas e das nações"


de Jorge de Sena; in "Sequências", colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores, 1ª ed. de Julho de 1980:
.......
Em louvor da boa linguagem
Lendo asnos do seu tempo
Filinto disse: -
«A boa linguagem dá batecús da raiva».
(7/dez/1970)
........
Em louvor do Brasil
Tal pai tal filho
(7/dez/1970)
........
Em louvor da Irlanda
Embebedados pela Inglaterra, capados
pela padralhada, enfascistados
por uma democrática opressão:
que diria Gulliver se visitasse esta nação?
(onde seu pai viveu e foi até deão).
(7/Dez/1970)
.......
Em louvor da língua portuguesa
Tão forte e tão hipócrita que até
usa nome francês para dizer
o que - heroicamente - faz
todos os dias
à cona da mãe.
(7/Dez/1970)
........
Em louvor da Itália
Roma, Veneza, Florença, Nápoles, spaghetti,
e os papas. Tanta beleza humana
numa terra dura e de ladrões.
Mas quantos séculos para estas pontes
e o jeito de roubar como de amar a vida
com tal volúpia que o roubado sente
o dever estrito de ficar mui grato.
(7/Dez/1970)
.......
Em louvor da França
A maior glória de países como a França,
não está em com que ela sorbonando ou saintmichelando
vos enche a pança.
Mas sim em que por mais que os antigos e modernos
sejam pintados de clássicos puriternos,
ou que por mais que baratas surrealistas
debiquem pelos quais suas alpistas,
há sempre uns poetas ou mesmo uns académicos
um poema ou verso ou vida que totémicos
vos dão no estômago um coice «mais du bon»:
oh ces mauvais garçons, oh ces mauvais garçons!
(7/Dez/1970)
........
Em louvor da Inglaterra
Escota, céltica, saxona, e escandinávia,
normanda e fideputa, imperial (pifou),
deu Távolas Redondas, gentemen, e hoje
os peidorrentos filhos de Welfare State.
Mas os poetas, os castelos, catedrais, os parques
e Londres, Londres, e essa língua obnóxia
ora latido ou música, e o passo
da liberdade como névoa ao fundo!
(7/Dez/1970)
........
Em louvor da Alemanha
Imperiais, burgueses, grosseria
como de duques de uma Idade-Média
sonhada por românticos no vómito
da cervejaria a mais - e todavia
a pompa de sentir que a realidade
é como esse equilíbrio de ser besta
à beira de sonhar-se o universo.
(7/Dez/1970)
.......
Em louvor da Espanha
Há ou não há? E o vício solitário
de ser-se castelhano, promovido
à escala de uma Ibéria, sem lugar
para outras línguas, outros povos, nada?
Se um dia isto acabasse! Era tão belo!
Mas quase não restava que louvar.
(7/Dez/1970)
(bonita imagem encontrada aqui.)

Há coisas lindas!


Ampliem a imagem. Deixem-na encher o vosso monitor, encher-vos do som rouco que sai do escape lateral, aquele que treme agora, como a fera que é, impaciente por saltar e perseguir-se a ela própria, infatigável. É animal esta imagem.

Chama-se "Super Snake", e é uma versão especial dos AC Cobra que o Caroll Shelby fez nos 60's. Este é de 1967, e foi vendido há dias atrás num leilão de carros de colecção, por cinco milhões de dólares. Abençoadas fortunas que permitem este luxo de manter 'vivas' obras primas de tudo, incluindo a beleza brutal dos automóveis de excepção.
E é um investimento: ocorrendo a tal gota de sorte que é preciso em tudo, em prazo não muito grande valorizará mais que aquele bafio de fato e gravata dos cofres deixa ao dinheiro 'parado'.

(já não sei bem donde, mas desconfio que gamei a imagem aqui.)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Olha lá, Paulina! olha lá!...



Hoje andei a manhã toda fora. Como nem sempre o que se deseja está logo à mão, em dois sítios tive de esperar para fazer o que pretendia. Se as agências bancárias têm belos sofás, convidativos até a uma soneca a quem se consiga esquecer de como é multiplicadamente malvada a palavra 'juros', já na outra ocasião de espera forçada, a uma porta que nunca tinha visto nem mais gorda nem mais magra, o sofá foi o do meu carro pois, suspeitava e com razão, a minha visita não era benquista e ninguém me estenderia uma cadeira.

E zás... para isso é que serve a mochila: em ambos os hiatos saquei do livrinho da Chiziane e fui-me a ele. Poucas páginas, ainda: o meu "livro de bolso" é mesmo para estes bocados de tempo que sobram inesperadamente, mais o café com sossegos e o que mais calhar. E assim se vão lendo, sem pressas. Contrariamente aos meus receios estou a gostar. Nada de deslumbramentos nem de iluminações repentinas: simplesmente a gostar, muito bom sinal para princípio de obra e de autora, meu caso já contado porque até agora adiado.

Até estou disposto, para já, a "dar de barato" e a relevar os maus tratos que ela dispensa à 'minha' Mafalala sempre que ela vem a lume... bem, estão para aí dez páginas lidas, ou nem isso, vamos lá ver se ela atina e evita-me mais ataques de catarro, catarro iniciado por oito anos de Mafalala e muitos "Havanas" comprados avulso nas cantinas, e que emerge em perdigotos de desagrado quando dizem mal do meu primeiro bairro em Lourenço Marques.

Quer os sofás bancários quer o tablier do meu carro agradecerão, Paulina...

(imagam da capa gamada aqui, e a dos cigarros daqui)

bom dia!


... rilhando a manhã.
("apples" daqui)

Ironias da História: as cruzes


José era carpinteiro. Por conta própria. É de presumir que, à epoca e local, o 'negócio das cruzes', se ocorria, tivesse um valor significativo no seu negócio e que ele não podia menosprezar.
Depois foi o que se sabe. Menos sobre o carpinteiro e o registo das cruzes que terá feito, se ganharam caruncho em armazéns do xerife local ou se passaram à História imortalizadas em belos e significativos óleos.
Há profissões que parecem inócuas mas são autênticas danadas, e há pormenores matriciais que são incómodos quando neles se repara. Hoje, as cruzes do passado. Amanhã? a sede por mais cruzes anda sempre no ar, e aspirantes a carpinteiros há sempre tantos...
Saddam sabe-o, ora a título póstumo.

(foto de cruz goggle-encontrada aqui, The Chevin Cross.) Aproveito e deixo o poema que lá encontrei:

....


....
It may not be the "true" Cross

But it reminds us of the pain

Suffered by Our Saviour

So that we might live again.

He bore it without hatred

He could not have loved us more

He shed for us his precious blood

In a far off land, in days of yore

....

I wonder what went through his mind

As he trudged along the road

With the sins of man upon his back

It was a heavy load.

How will we explain to him

When we meet him face to face

All the sins we had forgotten

And how we fell from grace

I hope that when my time arrives

The Good Lord will grant me rest

I will be able to look Him in the eye

And say "I tried my best".

....
Jackie McDonald

domingo, janeiro 21, 2007

o que ando a ler

À cabeceira, porta-aviões para quando calha, estão estes: "A sangue frio", Capote (o ritmo narrativo é poderoso ainda assim, releitura); "O Livro do Meio" (ainda, e ainda bem); "Já não me lembrava", Carlos Quevedo (crónicas da revista K, saudade, embora não apague os meus "Pão com Manteiga", 1 e 2, mais o apêndice só para os textos "O Roque e a Amiga"), e comecei ontem, como aquelas páginas poucas mas indispensáveis que se lêm diariamente enquanto o corpo não aquece para adormecer "Casei com um Massai", duma moça chamada Corinne Hofmann de que nunca tinha ouvido falar, aliás nem do seu matrimónio e, já sei, posterior divórcio (cala-te Carlos, não faças já deduções que podem ser precipitadas...) Este, recém-adquirido, entrou para cá com a esperança de nele encontrar o que, confesso-vos, não estou a ver em nenhum lado das poucas páginas que esta noite li; aliás, até acho que vou começar a 'saltar' algumas pois, se gastei 17,95 €, não foi pel' 'o relato surpreendente de uma história de amor que uniu a Europa e a África' (sic, na própria capa). Estará lá, haverá páginas onde está o que quero ler, o que pensei nele encontrar quando o meti no saco, mas não vou perder tempo a ler enamoramentos banais entre uma moça e um moço, engates, pintalgados de referências nada subtis do 'extraordinário' de um homem massai ser um homem 'diferente'. Está a aborrecer-me, estou a encontrar sinais da 'pinta', e essa conheço-a: o tique parvo-liberal dos que "adoptam um preto" para amigo de estimação e, assim, proclamarem aos quatro ventos e a si próprios, mais a quem possa estar distraído, que não são nada racistas, olha que ideia. Se calhar estou a exagerar com a boa da Corinne, que até casou, se divorciou e, diz na badana, "nasceu em 1960, em Frauenfeld, no cantão Thurgau, filha de mãe francesa e pai alemão. Separou-se entretanto do seu marido queniano, mas continua a apoiá-lo financeiramente como antes". Na badana... Mas que me está a subir a nicotina ao bigode é verdade, até porque desespero por arranjar uma situação dessas, teúdo e manteúdo por uma bela duma matrona mecenas das artes, todos os dias um beijinho e um poema em lençóis de seda ou do que ela quiser; daí, e acresce, fiquei logo todo enciumado do camarada mangusso massai, Lketinga de seu nome para completar a legenda do retrato desta família que, parece, se constituiu e depois acabou, "e a minha vida dava um filme". Já te 'tou a olhar para a capa de esgelha... Portanto e em resumo, Corinne, ou te compões ou vais para a prateleira não tarda.
Meti hoje na mochila, em substituição do já falado "Diário da Guerra aos Porcos", o meu primeiro romance duma escritora moçambicana de que nunca li nada antes, Paulina Chiziane: "Balada de Amor ao Vento". Nunca li nada da Chiziane antes e não é só 'porque não calhou'. Provavelmente por alguma crítica que li ou ouvi, mais provável ainda porque o 'sonhei' num daqueles momentos em que se sonha estúpido e, depois, ao 'acordar', fica-se um bocadinho mais estúpido - acontece -, meti na cabeça que a Chiziane seria a versão tropical da nossa querida e escritora de lençóis de seda, Margarida Rebelo Pinto, essa estupenda cronista da Max Men que, por obra e graça duma pena que flutua nas paixões escondidas da classe média, edita e estimula erecções em versão TIR, intelectualmente cheio até ao cocoruto não de máquinas de lavar ou micro-ondas mas de livros. E, como há tanto que ler, sempre me esquivei a ler Chiziane assim como me tenho safado à boa da Margarida. Não calhou. Agora vai, conto:
Há coisa de uns seis meses atrás, em conversa com uma nova Amiga que me deixou memórias para acarinhar (ambas), ela fala-me 'na Chiziane' e eu confesso-lhe que nada, e a minha ilógica razão dessa nada até então. Mas ela insistiu em como essa minha intuição estava errada, era mesmo sonho estúpido e deveria ler algo da Paulina para mudar a ideia e afastar esse preconceito totalmente errado. Ora como ela vem cá em breve, visita que aguardo já impaciente, tratei de comprar um 'Paulina Chiziane' para poder retomar essa conversa, até porque a Sheila, por dever académico, fez recentemente uma recessão crítica à obra de Chiziane e que me enviou em e-mail, a que nunca respondi por, razão supra, não estar habilitado com o mínimo que é ter lido pelo menos um livro dela.
Quanto ao resto, quando calha, lá vou à estante e leio umas linhas de que me recordo e, calha, sinto o impulso de voltar a elas; para além dos outros, os 'maçudos', aqueles onde está aquela informação que, agora, é preciso aprofundar sob um pretexto qualquer dos pensamentos do quotidiano. Se calhar (parágrafo do 'calhas', encontrei-o porque calhou...) essas são as melhores leituras do dia pois, nas outras, lá calha de vez em quando uma pepita mas, com tristeza, normalmente arrumo é muito carvão dourado em desilusões privadas, que se entende dever contar ao mundo: o fascínio individual pela sua 'vidinha', a mania de que 'a minha vida dava um livro' e, depois, lá tem de correr o 'Zé' para os lençóis de cetim da Margarida Light, cansado ao asco da 'vidinha' onde, ele "Zé-Maria", não vê a "Maria-Zé" sorrir na cama, obvius versus mais as combinações que calharem no imaginário individual
(tomara eu conseguir escrever-lhe o seu "Rilhando o Sucesso"... ;-) ... não fujo à deixa e, calhando, até pode ser que sim, uma espécie de privado Euro Milhões à medida das mui pouco privadas, rilhadas e circunstanciais necessidades...)
Ah! ontem abri uma botelha de aguardente Poças Júnior 'Cinquentenário', engarrafada em '68: maravilha!... até assinei com a mangusso-concorrência (o 'Ruím' vem mesmo aí) um 'tratado de Tordesilhas' em relação às 'pitas' cá da terra, mas que, ignobilmente, esta manhã e por e-mail com o 13º "As respirações de Marat", foi logo quebrado com uma das santas cá do meu altar*. Bahhh, como diz a outra...
Sem foto.
* O texto 'Morena' está assassinado em todas as palavras com acentos ou cedilhadas, desde que avariei o 'template' do blogue Xicuembo 2, e depois o abandonei por isso nascendo o Xicuembo (versão 3.0). Aquele - o 'avariado' - é o verdadeiro sucessor ao primeiro de todos os meus blogues, o 'Xicuembo', denominação assim sem mais nada. Agora, quando fui à procura dele para linká-lo, estive a expurgá-lo desses erros mas, depois, no 'publish post', dá sempre "erro" e não consigo descobri-lo para rectificá-lo. Mas são só meia dúzia de linhas e com não tantas assim 'palavras assassinadas': "lê-se", haja boa vontade e interesse nisso. Desculpas pela maçada.

nota de leitura: "Diário da Guerra aos Porcos", Adolfo Bioy Casares


Este post serve-se num mail: o meu comentário após ter lido o livro, a quem mo emprestou com recomendação.
Pois claro que num mail há observações pessoais que, aqui, sala pública, não têm razão de se mostrarem. Algumas até, iniciando-se no tema 'o livro' sobem por aí acima até esferas de conversa particular.
Mas o sumo dele, mail, era a resposta ao comentário quando mo foi passado para a mão: "- a trama, 'a guerra ao porco', o final; é um livro... perturbante. depois quero ouvir a tua opinião".
Aqui em resumo-alargado ao mail, ou seja com partes passadas a crivo e outras estendidas como a massa folhada, eis o que me ficou após ter lido este livro.... perturbante:
....................................................
autores hispânicos:
Primeiro disse-lhe que tinha gostado, e muito, da escrita do Casares, que não conhecia assim lido. Era um nome vago, apenas: da América do Sul e hispânicos pouco li além dos tradicionais, quer os de agora ou os 'clássicos' que já vêem de tempos mais jovens. Por isso ler o Casares, neste livro, foi uma maravilha. E não admire o adjectivo e não o substituo: felizmente quanto mais leio mais percebo que muito mais devo ler: há tanta coisa bonita, bem escrita, e que ainda não li... Deveria ter 'desconfiado' com a referência ao Casares ter sido 'Cervantes': certamente não o dão a qualquer um, e a escrever bem em língua espanhola há 'carradas': aqui ao lado, na matriz dela, estou sempre a espantar-me, quanto mais 'investigo' saltitando dum para outro, à mão duma busca que, se antes era muito fortuita, agora está a tornar-se 'recorrente': não me refiro só ao meu actual casal de preferências, Rosa Montero e Arturo-Pérez Reverte, mas também ao Cela, que tem coisas magníficas e proporcionais ao seu mau-feitio, Carlos Ruiz Garzon de quem li um único e fiquei com vontade de mais-mais, Munoz Molina e o Ballester. Se na península pelo menos os 'principais' vão estando debaixo de olho, já lá pelas américas é mais complicado e, tirando um Santiago Gamboa que descobri num pequeno conto e jurei ficar cliente logo que possa a mais avio, há 'os' Sepúlveda e GG Marquez, o Vargas Llosa e pouco mais. Muito pouco. Lembro-me dum mexicano de que li um único, Paco Tabio, salvo erro chamado "Escrito a quatro mãos", mas, tirando estes e mais os correspondentes 'clássicos de época', Neruda e Borges, pouco mais há por mim lido: nunca gostei muito da Isabel Allende, perdi o rasto ao Skármeta já há muito tempo, Laura Esquível não me atrai. De cubanos, por exemplo, não tenho ideia de ter lido nada deles nos últimos tempos. Mas mesmo assim há alguns 'lidos e a ler mais', e agora junto-lhe o Adolfo Bioy Casares, Argentina.
..........................................
o Adolfo Bioy Casares:
Ele é bom. Se lá para o meio se começa a perceber o que é realmente "a guerra aos porcos", quem são os suínos e porque é que são apedrejados, não só a ideia (terá 'havido' Malthus? lembranças do "Ensaio sobre o princípio da população"?) é original - que eu conheça ou me lembre - em tratamento romanceado que, alargando-o a uma "guerra civil" vai além do 'dramático' caso-romance individual, como, o final, é dado "ao contrário", e em rápidas estocadas: capítulos curtos, e poucos, para um desfecho que acaba por surgir nada atamancado, até lógico após a surpresa...
Depois há a forma de escrita, como trata o diálogo que é, para mim que não sei lidar com ele, sempre razão para muita atenção quando o encontro, assim fluído e natural, bem tratado, com travessa ao lado bem fornecida das observações e pensamentos que melhor traduzem o cenário e as emoções, mas, sempre, com o diálogo como peça principal no prato. O Casares é mesmo bom. Logo que possa, hei-de ver se leio mais alguma coisa dele.
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"Diário da Guerra aos Porcos": Thomas Malthus revinventado por um ficcionista do (nosso) quotidiano:
Mas indo ao tema, à "perturbação": "- Extremamente perturbante, entendi-te. Esta guerra é a 'outra' e a 'nossa' guerra parodiadas em excesso" - disse-lhe, e depois mais ou menos assim: "E o que é o 'excesso'? ele espreita... é circunstancial, civilizacional. Numa ocasião e num lugar é-o, noutro não. Não é excesso por aí além tu, cá, guiares como uma doida - e faze-lo: não costumas utilizar os piscas! tss tss... ; mas cumpres o código num país dos fundamentalistas de barbas e turbante, com piscas e tudo, e vais presa: um dos seus "excessos" civilizacionais; a relatitividade cultural a reduzir o 'excesso' a pormenor geográfico. 'Lá', nalguns 'lás' que os há, nem que sejas a 'presidenta' da PRP podes guiar automóveis, pois entende-se que quem tem air-bags naturais não pode estar atrás dum volante, ou por esta biológica razão ou por outra qualquer de que não recordo a certamente profunda verdade!..."
Depois continuo:
"Cá, agora: as reformas mais as pensões, e fazendo agulha aos "velhos": dá-"lhes" o pretexto para o Excesso, a gota que espreitam, desculpabilizante, um ou dois loucos com púlpito e virados ao contrário ou para o lado que quiserem e lhes calhar, e tens a ameaça dum excesso. Sabes que é hábito aqui, interior, quando 'os velhos' chegam a certa idade, num conjunto de 'garantias' para que as suas necessidades precárias sejam asseguradas pelos filhos (comida, fraldas, médico, ao menos isto), também pela necessidade dos 'novos' em fazerem o seu próprio ninho e nem sempre há carcanhol para fazer ou comprar uma casa, eles, os 'velhos', cederem/doarem-lhes a casa de habitação familiar e vão viver lá para trás, para "o fundo do quintal"? doam a casa aos filhos, normalmente estas casas populares, térreas e com um bom pedaço de quintal/machamba, onde por vezes mais duma geração construíu anexos, um comboio de quartos e cozinhas, armazéns e sei lá mais o quê: a 'sua' casa. Vão lá para trás, para o fundo do comboio, o anexo, o depósito dos 'velhos'. A Guerra aos Porcos em brandos costumes, se calhar o Casares leu em turismo rural o Thomas Malthus"
Um saltito e...
"O abaixo ao fim da vida com dignidade. Com reformas não contestadas. Toda a gente se esquece de repente que, quem as tem, descontou mês a mês para elas numa vida inteira (borrifa-te para as excepções: isso não é conversa, conta é a regra quando se analisa no global) Essas pessoas deram-se a um luxo a que tinham direito, julgavam...: sonhar. Com a sua reforma, que hoje vê-se já quase quimérica e, se não, olhada de lado pelos 'outros', os 'jovens' desta nossa versão soft da "caça ao porco". A guerra aos porcos, sejam eles quais forem quando tememos que mexam no nosso bolo, mesmo que seja um bolo que ainda não veio para a mesa, mesmo assim olhado como um 'direito natural' individual que ninguém pode contestar, prerrogativa do existir, mas, pra ciosamente o assegurar, 'defendendo-o' já com ataques aos que, afinal, só gozam ou prevêm já gozar... direito 'natural' igual. Noutro tom e cor, também o racismo: é outra 'guerra aos porcos', exemplo máximo entre nós o histerismo que houve com a inventona de Carcavelos, onde se fabricou o arrastão dos pânicos onde uma ondazita 'gamou', dados oficias e depois tornados públicos quase em rodapé, um telemóvel e um saco de praia, umas poucas toalhas. Fraca onda, qualquer taberneiro de luxo que se preze faz melhor ao apresentar a conta" Para fechar esta parte:
"E nem sempre é assim, mas é sempre preferível uma guerra aos porcos quaisquer, 'os velhos', a reforma "prematura" e "choruda" dos 'velhos', um altar qualquer para incendiar que se invente para, virando a cara para o lado, mandar-lhe umas pedras e partir-lhe uns vitrais. O excesso espreita nas atitudes colectivas, mais ainda quando os que 'sabem' se apercebem que, elas, 'massas' e suas investidas ao capote agitado, sendo assim manipuláveis, pondo-as em tropel delas recolhem ganho ou vencem intento: o Farel*, o dos programas na rádio, lembras-te?"
.............................................
E esta frase, já na parte final do romance, "traduz-me" o sentimento que alastra no livro, na 'guerra ao porco'...:
(Tuna para Isidro, num dos «bares das músicas»:)
" - Como aquele que garatujava 'Angélica continuo à tua espera' nas paredes do hotel de Vilaseco? Olha, as pessoas estão escaldadas, evitam complicações e toda a gente aprova os que desatinam"
..........................................
End of story, 'valeu': o ano de leituras está a começar bem, oxalá se mantenha...

* personagem do livro, político extremista e de discurso demagogo com um programa de rádio doutrinário e "incendiário"

sábado, janeiro 20, 2007

janeiradas

(post sem consideração.
pelos que,
não tendo os dezoito,
gostam de ler poesia
com a digníssima picha emancipada na mão)

- aí vai;
leva uns asteriscos
onde mal rimava a
desconsideração...

........

quero que se f*** a rima:
eu gosto é de poesia.
e – convenhamos,
rimar coração com
camião
nem é fácil nem é coisa

que dê tusa,
não

leituras

Transcrevo a crónica de Fernando Madrinha, no "Expresso" de hoje, acerca da «questão sargento Luis Gomes». No zum-zum mediático é, até agora, a análise mais lúcida que encontrei:
.................
Cega e teimosa
"Um homem é condenado a seis anos de prisão e a 30 mil euros de multa por querer preservar uma filha que, não sendo do seu sangue, é do seu coração desde os três meses de idade. Preferiu enfrentar e assumir uma condenação a perder essa criança que recebeu e sempre tratou como sua. Com esta opção, Luis Gomes, sargento do Exército, fez mais uma e decisiva prova do seu amor paternal.
Dito assim, tudo parece simples. E é tão evidente para todos que custa perceber como é que o tribunal decide mandar para a prisão alguém que, perante a sociedade, só merece aplauso. Afinal, o casal recebeu a menina quando ninguém a queria - nem a mãe, que lha entregou, nem o pai que se recusou a aceitar a sua condição e até a dar-lhe o nome.
Desconfio de certas causas com sabor a campanha que por vezes explodem na comunicação social. Perante um coro de vozes apaixonadas, é preciso ver bem os factos e os argumentos contrários aos da opinião geral. Afinal o pai biológico não se desinteressou da menina. Teve uns meses de dúvida, é certo, mas rapidamente quis saber do seu destino. Tanto que a procurou, que tentou vê-la e falar-lhe, tanto que a perfilhou quando ela tinha pouco mais de um ano. Não existe sequer um processo de adopção concluído. Porque andam os pais adoptivos a esconder a criança? Um tribunal entregou a tutela paternal ao pai biológico. Não se podem desvalorizar assim os direitos do pai verdadeiro. Se as decisões da Justiça nada valem, como pode organizar-se a sociedade?
Realmente o caso não é tão linear como parece à partida. Mas também não é tão complexo que não se vislumbre saída. E esta é, realmente, a que a própria lei e o mais elementar bom senso aconselham: na dúvida, prevalece o interesse da criança. Ora, não estando ela em idade de poder decidir por si mesma, o interesse da criança é evidente aos olhos de toda a gente menos do tribunal: permanecer na família estruturada que a quis desde sempre e que é a sua. Não é do interesse da criança que se levantem no exterior estas dúvidas serôdias sobre a sua relação com essa família, se tal relação for boa e equilibrada. E, sobretudo, não é do interesse da criança ver-se privada por seis anos e nesta fase do seu crescimento, da presença do homem a quem sempre chamou pai e que, para os principais efeitos, é o seu pai verdadeiro.
Neste processo, a Justiça errou duas vezes. Errou quando decidiu de forma burocrática dar a tutela do poder paternal ao pai biológico sem atender às condições em que a criança vivia na família que a tinha à sua guarda. E errou quando decidiu condenar a menina a ficar sem o único pai que conhece, o qual, pelo que se sabe, lhe tem dado a estabilidade e o equilíbrio de que ela precisa. São justas, portanto, não só a campanha informal nos «media», de que desconfiei a princípio, como todas as diligências para a libertação do sargento Gomes."

porque hoje é sábado...

... tomem lá uns carrinhos para darem uma voltinha. Modernos, desta vez.
Audi R-Zero

Alfa Romeo Diva

SSC Ultimate Aero SC 8T

Pagani Zonda Roadster
(as imagens - que aumentam clicando nelas - foram obtidas na Internet sem que eu, agora, tenha a menor ideia de onde. por aí...)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

referendo


Continuo confuso, indeciso, com impulsos de voto contidos nas (muitas) dúvidas que me dóiem.
Raramente me senti assim, intelectualmente falando. E não há dia sem que...
(imagem já bastamente identificada em posts anteriores)

tic-tac d'um cabrão


não tenho tempo para olhar o Tempo,
mistifório de tic-tac's
que asfixia e esconde a luz
e o meu dia.

não são horas de sonho,
criação ou ilusão.
serão mais múltiplos sessenta, lentos
nacos de dor.

(e os segundos que se esvaiem sem fruir,
sentir a sua delonga...)

olho-o: não pára.
é olhar de luxo olhá-lo,
gastá-lo vendo-o terminar-se.
mesmo assim faço essa despesa sem fim
este término fardo,
farelo da Ilusão

- corda que me move e faz olhá-lo
esgaravatar de fenda, traço ou lampejo
que valha a sua falsa lentidão.

(gastas-me, Tempo nefasto

musa a prazo, estro, nume,
tic-tac d'um cabrão.
má percentagem do cinzento
que devora e eu julgava incontáveis,
o Tempo e a Ilusão)

voraz, glutão, insaciável,
sôfrego, falso lento, acelerado,
apressado, ligeiro, precipitado.
rodas, rodas e não páras
tic-tac irreplegível
juntas sinónimos de ávido ao meu tempo
enganas-me roubando-o de mim.

porque não me dás mais tempo,
seu tic-tac aldrabão?
(o bonito relógio estava numa parede daqui)

Haikkus no Metro, atenta a Dinamização Cultural

(Fernando Grade)

Tenho a sorte de conhecer este 'maluco'. Há mais de vinte anos e com 'dezanove' de permeio, até ao ano passado, falados-encontrados casualmente na estação de Metro do Campo Pequeno após uma apresentação dum livro dum amigo comum, no Galveias, onde nos entreolháramos à distância: eu nas certezas tímidas de quem olha mitos vivos, ele nas dúvidas da cara vagamente reconhecida. Fizemos uma Festa! foi bonito de ver - há uma testemunha: minha irmã ia connosco. Na carruagem, a trautearmos velhos poemas - haikkus dele, eu a picá-lo com os que mais estimava na memória - e nesses "dezanove anos" nunca os esqueci, mesmo se com rimas 'atrapalhadas'!...


"Exclamativo às portas da cidade"

Não há tusa
para tanta musa!

.....
ou este...
......

"Estribilho para o nacional cançonestimo"

Quem diz prolixo
diz prò lixo.

.......
mais:
......

"O Último Manifesto"

O hipopótamo falava pelos cotovelos.
Então comeu as nuvens todas? Era fatal:
a erva não chega ao nariz do animal!

.......
(eu puxando alguns motes, ele completando na ponta da língua!...)
......

"Haikku contra a geometria romântica"

Nunca tive jeito para a geometria
porque vejo sempre na pirâmide
o suor de quem a construía.

......
mais dois de seguida:
.....

"Exclamativo Europeu"

Chiça:
que a menina aprendeu línguas
na Suíça!

....

"Perguntando sempre"

- E os crimes, meu general?
- Ah, isso foi há muito tempo... Já ninguém se lembra!

......
depois, em gargalhada já gritada em alegria, o Eleito:
.......

"Rusga no Bairro Alto com saias gritadas
correrias apitos estridentes (vão na ramona!)
e o que seria escrito no relatório
se (por obra e graça do Espírito Santo)
o polícia de costumes se transformasse
em mirone desapaixonado
ou cronista de ruas malditas"

A pega não deu o pito ao chui.

......

Apoteose. Mais que Passe foi Serviço Social: havia sorrisos no Metro das nove da noite, acreditam?

Eu e ela descemos para Alameda e daí para a Expo, ele seguiu para outro comboio e daí até ao Estoril (Madorna? p'raí...), nós já seguíamos a olhar para Santarém.

As "dezanove distâncias" não valeram puto. Santarém. Conheci o Grade nos tempos de fundação do Centro Cultural Regional de Santarém, tempos em que havia empenhos e apoios que se entendiam e improvisava-se o resto. Fui 'fundador', e só não assinei a escritura de constituição formal por estar nessa altura a estrear-me em hotéis-hospitais: tinha partido uma perna num acidente de viação a caminho de Tremez, num Fiat 850 daqueles que pareciam um ovo e tinham o motor atrás: fiquei 'abraçado' a uma árvore pois o mano Adriano não teve mãos para tanta lata em tanta curva e tanta chuva. Um dia re-conto, pois recordo-me de já me ter chibado nalguns posts lá para trás acerca das "maçãs do Malveira", e se calhar de mais coisas, tal como dos jogos de xadrez pela noite fora quando certa equipa de enfermeiros estava de turno: iam buscar-me à cama com o maior dos cuidados e silêncios, e lá ia eu na cadeirinha para a sala deles até às tantas, uma tábua enfiada debaixo do rabo para apoiar a perna mais a "antena de televisão" e os pesos pendurados na ponta. Era 'fixe', pois S.José, pelo menos à época, parecia um "hospital de malucos" tais os retratos e os espécimes que ali se amontoavam: havia momentos em que me parecia viver um filme à Fellini e, à hora das visitas, temia que aparecesse até o próprio Arrabal e déssemos para nos devorar uns aos outros ou a nós mesmos, tal como me lembro de ver num filme dele, já fins de '76 e no "Avenida" da baixa da então ainda Lourenço Marques, em que há um 'man' que, parece recordar-me que num deserto ou isso, come um bom naco da própria mão. Hospitais, as maçãs do 'Malveira' (assim porque era da Malveira, tal como na tropa a toponímica natal serve de nome) que já não tinha uma perna e estava à espera duma peça qualquer (que viria da Alemanha, bom aço) para levar finalmente a prótese do joelho para baixo embora, ele jurava, ainda sentisse comichão no pé que já não tinha: 'sentia' o volume da parte decepada. E rilhava as maçãs

(tema recorrente em mim de há uns dias para cá, infelizmente....) bem, o Grade

não: ainda há mais maçãs:... sempre que um avião passava lá por cima, nós para o Malveira: "- oh Malveira! é neste que vem a tua peça, os parafusos!" E o Malveira nada, nem resmungava pois estava permanentemente ocupado a rilhar dum cesto de maçãs que a mulher renovava sempre que lá ia à visita, umas duas à semana. E peidava-se muito, devia ser das maçãs. Na 'noite pesada' das noites hospitalares ouviam-se os dentes dele (chiça, não estudei na Suíça mas não me calo com a deixa!) a rilhar, a rilhar (palavra linda...) e havia sempre alguém que protestava: "- porra! já estou a sentir o cheiro! pára com essa merda das maçãs, ó Malveira!"
- o Grade:

Houve uma sessão de poesia que se organizou logo nos primeiros tempos, misto de sarau e conversa e com a presença de Autores, no auditório do Arquivo Distrital, em Santarém. Logo na primeira tarde, ao sábado, daqueles verões como só se sabem como dóiem a quem vive no alto de Santarém e olha o rio seco, minguado, mesmo assim tão grande para o (para ele) tão pequeno riacho que é o rio formado pelo suor de quem suporta os verões do planalto. Nessa estreia um dos Poetas era nem mais nem menos que o Fernando Grade. Que já tinha não só a boina e as barbas como também a áurea: era "personagem". E, precavidos e para receber bem, atento o estio, comprámos uma grade de minis para alívio e dessedentação à figura que íamos receber.

Chegou numa velha R4, sei lá conduzida por quem pois o Fernando não conduz, que eu saiba. Com sacos e saquinhos com livros, pronto a estender a sua banca de 'Viola Delta's mais as múltiplas edições do Mic - Movimento de Intervenção Cultural, cooperativa cultural de que é presidente honoris discussão desde a brilhante ideia da sua fundação. Enfim, estava calor e vivia-se, talvez p'raí, 1980 ou 81. Como ainda era cedo para irmos para o M. Distrital (insisto neste pois há outro em frente, onde a segunda parte se passa) que ainda nem estava aberto, acolhemo-nos no (vamos lá então...) quase em frente, o conhecido 'Museu dos Cacos' de Santarém, aquele que tinha à porta dois elefantes em certa pedra, sendo que do 'dessa' resultava que, o mais próximo do estreito passeio lateral à secular capela hoje museu arqueológico, tivesse a zona do dorso junto ao rabo todo escavado pois, toda a gente o sabia e lembrava-o a qualquer 'turista' que com ele ali passa-se, apresentando-o como uma curiosidade local, se se raspasse a pedra dela saía um cheiro desagradável: "o elefante peidava-se".

Bem, esse museu, para além da atracção aos gases do bicho cumpria outras funções, tumulares e numismáticas, turísticas: estava aberto nessa tarde. E era fresco lá dentro, também o sabíamos todos pois já nos acolheramos várias vezes à sombra da alta nave em pedra, a conversar com a Isabel que então lá trabalhava, por isso guardáramos lá a grade de minis, tudo na melhor das intenções de bem-acolher a personalidade.

E vieram os abraços de quem já se conhecia, e as conversas, ajudamos o Fernando a descarregar o carro e lá fomos para 'o fresco', para o museu dos cacos, até para apresentá-lo à Isabel. O Berto, hoje ou na RTP ou na SIC, nem sei bem (Alberto Serra); o Tózé Amaral, hoje ainda no CCRS, o sobrevivente; o Gomes Vidal do Banco e o velho Cunha anarquista (este, sozinho, dá para um livro de contos); o Zé Manel Leandro cá de Almeirim e então meu companheiro-cúmplice na travessia do anarquismo, também o Chona do teatro, a bela Cristina e o (?), pintores, então casal; a Eulália professora; um dos irmãos Quaresma talvez, o Zetho Cunha Gonçalves, esse outro 'ganda maluko', sei lá... nós éramos um grupo grande, os da primeira hora do Centro, e por certo alguns destes nomes estavam lá e, não interessa quem, segredou ao Grade que havia uma grade de minis, fresquinhas, guardada em baixo da secretária da Isabel...

Nada o demoveu de nos convencer a jamais abandoná-la, assim, entendeu-o como Missão... Quando a Isabel anuiu, sei lá como e a olhar para a porta, a deixar-nos subir por uma escadinha em semi-ruínas que ia dar a um terraço no telhado, zona inacessível aos visitantes e nunca utilizada - via-se pelas cagadelas de pombos -, ele foi dos mais lestos e empenhados na ajuda ao transporte da grade que, pela pouca largura do estreito corredor com os degraus, circular, não dava o mesmo jeito que lá em baixo, onde entre dois se transportou em volta dos sarcófagos dos mamutes históricos lá enterrados, ou dizem que estão ou estiveram (mas vejam as moedas antigas, são muito interessantes).

Lá, no alto, no terraço, houve, aconteceu, uma viagem de Metro como aquela que contei 'dezanove anos depois': enquanto a grade se esvaziou num abrir de cápsulas mais rápido que a sombra - que ali não existia, desculpa magna! - também houve Haikkus declamados do alto das medievais paredes, das muralhas caíam poemas e o gentio lá em baixo, atónito, esfregando o rabo do bicho na esperança de ele se lhe peidar na cara, no nariz, olhava para cima entrando-lhe poemas gritados, não do rabo mas do céu, turisticamente assessorados nalguns arrotes e, certo, muita gargalhada. 'Dinamização Cultural', chamar-lhe-íamos; hoje 'uma intervenção' e fazem-se exposições assim parecidas, uma grade de minis poetizada e já está.

Depois fomos lá para dentro, do 'Distrital', a poesia e os discursos, e o Fernando lá vendeu o seu peixe. Eu trouxe um saco cheio dele, de Mic's, já escalados, e ainda bem que o fiz. As heranças conquistam-se, nem que tenham o prémio dum abraço só "dezanove anos depois", metro das nove da noite, nesse sem hora de, campo pequeno-alameda, haikku-memória igual.

Depois disto, há coisa de há ano e picos atrás, convidei-o (e a outros amigos, poetas) a vir declamar em Almeirim: ainda hoje é recordado no café onde "aconteceu Grade", houve Poesia on road, again...

(com ela, memória, auxiliada por: "O Vinho dos Mortos", Edições MIC, 2ª edição de 1979, alterada; e "Serenata ao Diabo", também MIC, 1978; foto dele daqui)