sábado, janeiro 27, 2007

lembrando-me (literatura erótica)


Catherine Millet é a mulher com "o maior par-de-tomates" de que me lembro, assim de repente que me lembrei dela ao passar-me pelas mãos o seu "A vida sexual de Catherine M." (Asa de bolso). E acho-me justo na aposição de tão robustos apêndices em tão garboso peito de pena-de-pato, eis a verdade: quando lhe sopeso o livro estou a sentir muito mais, a dimensão doutras coisas que vêm naquela escrita e entre elas a da palavra 'coragem'. Millet fê-lo, contou ao pormenor o seu passado de puta, não para ascender a nada na puta-da-vida. Se acontecesse, ela não 'subia': só podia mesmo era descer pois, fê-lo, editou-se assim, nuazinha, como chefe de redacção duma revista de artes, e ensaísta conhecida e julgo que reputada, no tema. Fê-lo. Sem medo às pedradas, desnudou-se uma puta duma última vez: está aqui na minha mão.
Bem, e como é que se anda, como é que dou por mim assim, num sábado à noite, por prateleiras tão... tão... tão o que são e a carga que levam? primeiro via Fourier e o seu "Manual analítico da corneação", da & etc, aqueles cadernos fininhos. Daí, porque veio quase agarrado passei para Quevedo (que desconheço se avoengo do man da revista K, já lhe aviei o book das crónicas e foi em menos tempo do que eu esperava, azar), "Graças e desgraças do olho do cu", e levantei-me da secretária. Tinha ido buscar o Ch. Fourier por causa do "Rol de Cornudos" do Cela, o Nobel espanhol dos maus fígados e que tem coisas bonitas para ler, quase sem se dar por isso.
Lá, no coio, havia Miller's dois ou três, "Manual de Civilidade para Meninas", Pierre Louys, em cima do "O Meu Pipi" (Oficina do Livro); "o relatório Hite"; o "Cunnus", Antígona, de Alberto Hernando, e o homónimo na fixação fonética, "Conos" de Juan Manuel de Prada, da Fenda; depois "A Pérola" de autor anónimo e uma mistela que nem para masturbar presta (Europa-América) e eis, de Sacher-Masoch, "Theodora". Tempus Editores, já agora o registo. Pausa, fui fumar um cigarro. Está lá outro do mesmo, "Don Juan de Kolomea", Antígona. A Millet. Duvido que eu tivesse tomates para o ter feito, eu se fosse ela: é um dos livros que, na mão, pesa-me além do tamanho - páginas de bolso, já referi. Por isso gosto tanto deles. Meus livros, meus documentos e também registos de mim, do que sinto através de cada um, o que penso quando os leio, os arrumo, os sei aqui, ao pé de mim... registo central e em palavras tantas vezes lindas da construção de mim, via as dos outros. Lendo-os inicio as minhas, falo de mim, seja num romance policial 'bem esgalhado' ou, como calha agora, no tal cantinho mais dissimulado das prateleiras.
A Millet teve mais tomates que qualquer um deles. Aposto. Nem o Miller mais a Annais, gosto muito do Péret e dou-lhe a leitura que merece e tiro o chapéu à fotografia das primeiras folhas do seu "Os tomates enlatados" (da Antígona, com pruridos editoriais que nunca entendi: reservam para a pág. 3 o título original, "os colhões enraivecidos") pois - voltando à foto e por causa dela - é documento histórico que fala muito sobre o gérmen dalguns movimentos surrealistas e outros depois, que todos bebem na mesma fonte que é a contestação e o ataque ao imobilismo, ao conservador, às instituições e suas representações pois elas estão sempre tomadas de assalto e posse por esses ilustres atrás ditos, que na foto Péret insulta publicamente um duma, na rua: um padre. Mas, Millet e Péret, mesmo atentas as diferenças de épocas e evidente passo de gigante que a aceitação social deu relativamente a comportamentos 'excêntricos', que é obviamente favorável à conterrânea Millet, mesmo assim acho que ela arriscou mais com a edição deste livro de memórias que o bom do Benjamin, corpanzil de homem e nada pequeno olhando bem a foto, insultando o cura mal o via assomar à esquina da rua - como atitude ideológica, sei-o. Reparo que guardei dois ou três daqueles livritos que costumam vir como suplemento às revistas 'para homens', quando a libido literária dos machos nacionais anda por baixo, e há que estimular as vendas: "Sexo: o guia para o homem" da 'Men's Health', e mais dois assim inarráveis e infotografáveis.
Para despachar o resto e guardar a Millet: "Os infortúnios da virtude" do Sade, velhinha edição Minerva de bolso, ainda com a sobrecapa de plástico, "A Fermata" de Nicholson Baker, Bertrand, romance estranho e que me deu vontade de um dia ler o outro que sei dele, "Vox". Lá calhará quando for. "Léxico do Erótico", em capa dura vermelha e letras douradas, ainda da Bertrand: deste lembro-me bem, pois é o único livro que roubei em toda a vida e de que fiquei sempre com um enorme amargo. Sim, roubava alguns antes. Nunca terei dado prejuízo pois compro-os aos quilos, e por todos os lados. Mas, às vezes, lá nas salas mais vazias dsa livrarias e fazendo contas ao dinheiro já com alguns impossíveis de não levar na mão, escondia um debaixo da camisa. Este gamei-o na papelaria do Manuel Castela em Santarém, princípios dos 80's. Era muito caro, eu não podia comprá-lo na altura. Foi um impulso mas foi um impulso mau, este pesa-me nas mãos, como agora. O Castela era dos tipos 'cotas' mais 'impecáveis' que conheci em Santarém. Até chego a pensar que, se tivesse falado com ele, ele emprestava-mo se eu queria assim tando lê-lo. Ou pagava-o em prestações ou, até, se calhar, até mo dava. Foda-se. Adiante, ainda cá estão dois para fechar o confessionário e ir fazer uma penitência qualquer: de Teixeira Gomes "Duas Novelas Eróticas", Contexto Editora (nunca as li, embora fininhas, um dia destes vai); do escritor-ciclista Alfred Jarry (ed. Afrodite) "O Super Macho", livro que tive-meu em África e portanto ainda no final da adolescência, e que cá em Portugal recuperei para a minha reiniciada biblioteca logo que pude e cá se mantém, avé. Os desenhos das páginas inicias, tinta-da-china ao que me parece, sempre me acompanharam na memória: não abro este livro há anos e anos (hoje foi a sua noite de regresso aos meus dedos) e, um deles a exemplo, foi o registo de memória que esteve na criação dum dos meus 'quadros', na falida minha fase-polivalente (o tal de título "K" que, afinal e no meu abecedário das cores era a letra "M", aqui) Mais ainda, um certamente interessantíssimo "Prazeres Eróticos e Sensuais: um guia prático", de Ruth K. Westheeimer e Louis Lieberman, Europa-América, que como não tem bonecos nunca li e, desconfio, lerei.
Estou também desconfiado que há por aí 'umas coisas' que, bem procuradas, juntavam-se a estes. Mas sem pressas: eles acamam-se e acasalam-se naturalmente, e há tempo. Muito tempo. Entretanto e até lá, conto em breve estrear-me na crítica cinematográfica com a minha leitura memorial do maior dos maiores, o melhor filme porno que vi em toda a vida: "mete o teu diabo no meu inferno", visto farão agora trinta e um anos e no cinema da Rua das Portas de Santo Antão, Lisboa, quando lá retornei vindo de Lourenço Marques. Fenomenal, e uma destas noites calhará contar-vos porquê.

Fim de post: Três vivas muito merecidos à Catherine Millet!
(foto da capa do livro daqui)

2 Comments:

Blogger Ana Saraiva said...

O arrojo e a coragem da mulher têm mesmo de ter... "tomates"? Passou-me "vulnerável" à frente dos olhos...

10:29 da manhã  
Blogger Carlos Gil said...

:-)
(e só quem os tem sabe como eles o são... daí achar qua a Catherine teve-os, e bem vermelhos como soe dizer-se...)
entendeste-me ;-)

12:34 da manhã  

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