domingo, janeiro 28, 2007

África Surge et Ambula



(África Ergue-te e Caminha)

Foi assim dito, poetisado, por Rui de Noronha nos anos 30's do século XX. Anos invulgares para se falar assim, todos reconhecerão mesmo que tenha sido gritado em palavras maiores, as de Poeta.
Rui de Noronha, poeta moçambicano, o primeiro da 'poesia moderna' desse país segundo sempre li, falecido com apenas trinta e tal anos. Sem mais biografias sejam elas das curtas ou das estendidas pois, se a frase não espicaçou goggles-curiosidades a quem dele nunca ouviu falar, também eu vou um dia destes deixar aqui alguma coisa referente.
Recebi hoje o livro com o nome deste título (ed. Espaço Rui de Noronha Associação - site um bom bocado desactualizado, fica o reparo...), um pouco prematuramente pois o lançamento será dia 7 de Fevereiro e às 18 horas, na embaixada de Moçambique aí para os lados da antiga RTP e do Campo Pequeno.
O livro vem com um 'cd' onde, principalmente pela filha, Elsa de Noronha, declama-se a sua poesia e, também, há prosa sobre ela e o poeta além de 'depoimentos'. Ainda não sei quando custa mas, pelo documento que é, é pagar o que for que também não há-de ser assim tanto que.

Deixo o poema "...Surge et Ambula", que a Elsa tão bem declama:
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Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.
Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E tu dormes no outro o sono teu infindo...
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A selva faz de ti sinistro eremitério
Onde sozinha à noite, a fera anda rugindo...
Lança-te o Tempo ao rosto estranho vitupério
E tu, ao Tempo alheia, ó África, dormindo...
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Desperta! Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e de beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente em carne de sonânbula.
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Desperta! O teu dormir já foi mais que terreno
Ouve a voz do Progresso, este outro nazareno
Que a mão te estende e diz: África, surge et ambula!
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Nota: esta é a 'versão A' deste poema; segundo leio são conhecidas cinco, contando com esta.