sexta-feira, setembro 22, 2006

Ferraris exóticos (1)









JÁ CONSIGO METER IMAGENS NO BLOGUE!!!!
E para comemorar nada como umas fotos dum exótico - e único... Ferrari 408 Stradalle, carroçado sobre um chassis do 512 'Testarossa' (não confundir com aquele aborto chamado 408 Integralle, infeliz experiência da casa Zagato num Ferrari de tracção total...)
FUI AMNISTIADO!!! JÁ CONSIGO METER FOTOS!!!

quinta-feira, setembro 21, 2006

A minha garagem

Ponto da situação, ontem*:
229.075 fotos em 21.008 pastas; com um tamanho no disco de 42,1 GB (sendo uns 90% em formato JPEG...) Parece a montra da Casa Vilaça**, hein?
* sim, ontem. que hoje as pastas 'Auburn', 'Cord' e 'Duesenberg' levaram um bom impulso...
** loja de brinquedos na Baixa da antiga Lourenço Marques, especializada em miniaturas 'Corgi Toys', 'Dinky Toys' e 'Matchbox' e em cuja montra eu passava horas infindáveis, prenúncio das actuais em volta desta mega enciclopédia automóvel que estou a "construir" de há dois anos para cá

terça-feira, setembro 19, 2006

Blogame Mucho e Apenas Mais Um en route

Pelos vistos não estou sozinho. Estamos, acrescento, pois de incompetentes e chicos-espertos informáticos está a blogosfera cheia.
Já lá vai p'raí um glorioso ano que arruinei insoluvelmente o 'template' dum certo blogue, forçando-me a saída de fininho e com sorriso amarelado, cor de cáca, airosa coisa que não tarda me apresto a fazer neste pois os sinais já estão aí: deixei de poder colocar fotos por obra e graça e birra do mesmo, a que por exclusão lógica restaram as letras que já se assomam como pré-defuntas, má cara. Enfim, coisas de mim, parece que mais duns tantos.
Mas, dizia, não estamos sozinhos. A irmandade dos nabos alarga-se, floresce em novos blogues à medida que os enfermos definham. Tanto parlapiê chorado para vos contar e avisar que o Blogame Mucho, esse momento prazenteiro da blogosfera, consumou o crime original do luso bloguista e matou o pai sem abdicar à herança: abandonou à estepe dos mortos-vivos o finado 'template' (sim! um blogue não morre se não assassinado! paira para todo o Além no limbo que se quis panteão antes do trambolhão, e arma-se em Fénix em novos ares, novos links, vitaminas A, B, C e D e as mais que por lá houver para rejuvenescer a coisa), e renasce revigorado e teso que nem bebé filho de transmontanos cruzados com algarvios... Ainda bem, é dos tais que faz e fará sempre falta, chavão mais que justificado pelo manual de boa escrita e melhor disposição que, o falecido, nos legou antes de lhe dar o triste pio. Melhor sina teve o Apenas Mais Um que, fazendo a habitual borrada no 'template', conseguiu deixar as ossadas visíveis embora com confessados problemas de transladação a benefício das futuras gerações de Eufigénios, coisa que, acredita-se, se resolverá sem ser necessário "matar o pai".
Falta mencionar os novos códigos postais: são este (Blogame Mucho), e este (Apenas Mais Um). E juízo com esses 'templates', já agora, diz o roto ao nu...

Janeiros (antecipadamente) sonhados: III

Vocês já ouviram falar no "Shosholoza train"?

domingo, setembro 17, 2006

Janeiros sonhados: II

(...e a desta tarde, ainda 'fresquinha')
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“escrevi-o ontem mas hoje já pensei nisto várias vezes. aliás: ainda ontem, antes e depois de escrevê-lo (no antes a razão de...) andava-me cá a bailar pois, tendo ido ao café e até inesperadamente ouvido um concerto de 'banda de garagem' que foi bem agradável (gostei do baterista: sempre que vejo um conjunto fico com a ideia que, de todos, é o que mais curte), lá encontrei o João Carapinha que tinha vindo do Algarve passar cá uns dias e, amanhã, ver o filho, e toca a "combinar" uma ida conjunta, dois hippyes tardios com um bom bocado de pinceladas dadas em comum na grande tela 'daqueles tempos' (isto está a ficar pintalgado demais, mas enfim... é domingo e já tenho cinquenta e um anos, o almoço foi um caril esplendoroso com a Paula e o Carapinha (a pequenita não alinha em comidas exóticas e, acresce, anda a iniciar-se no wonderfull e a partir de agora eterno mundo das dietas padronizadoras, coisas de pita que, um gajo, um gajo, quando lhe começa a nascer o bigode o que faz e o que só tem a fazer é arranjar logo uma barbicha, patilhas e ar de esgrouviado para lhe fazerem companhia, yé!) mas, contava, naquele vago princípio do 'também alinha" e que tanto pode vir a significar "este gajo está mas é maluco!" como "então? quando é que arrancamos, Joe?" e há companhia para a viagem na rota proposta e só com um franzir de naiz à etapa europeia por comboio pois, a sua versão sul africana, recebeu concordância e epíteto de boa ideia. Cá, é que ele acha - gajo batido nessas coisas de andar de cu no ar, que numa low cost púnhamo-nos lá, Heathrow, por menos de metade do dinheiro e num instante... Porém, e é esta a minha defesa pública pois a íntima conhecem-na vós: pelo-me de medo de andar de avião, raio de mania e modernice de merda, afinal o que é que há de errado em andar de barco, comboio, até machimbombo? e onde pára o romantismo inerente a tais viagens, imaginadas sempre como uma aventura especial? sim, o Gamboa, gajo colombiano que eu nunca tinha lido e julgo que nem sabia que existia - sorry man... - escreveu um conto e que muito recentemente li e me encantou, onde em trinta páginas faz e mistura mistério e suspense com doses magistrais de sexo com hospedeiras e à volta do mundo, espécie de vida paradisíaca para mangusso que se grame e que, a páginas lá para o meio, se vai tornando no mias estranho conto de 'terror' que já vi imaginado em volta do tema..., ok o bom do Gamboa até trata os voos para além do cliché erótico da queca na casa de banho, etc etc bocejo. Mas mesmo assim eu cá por mim tenha essa mesma banal fantasia mas num TGV, imaginando-me a cruzar que nem um assobio os verdes campos da França profunda e soltando urros à Tarzan que ficam a pairar que nem papoilas sobre os vinhedos, encostas e veredas que vêem a flecha de prata assobiar com o Web lá dentro. Portanto e em entre parêntesis aconselho o livro: é das edições de bolso da ASA, ou ASA/Fnac, e chama-se Histórias Apátridas: cinco autores hispânicos. As outras histórias são para esquecer pois ao lado desta empalidecem e esfumam-se para não valerem uma quinhenta, e o conto do Gamboa, Colômbia, vale uns cinquenta euros. Ah! o livro custa 4,95 na Fnac mas já o vi nos saldos do Modelo a euro e meio, fim do parêntesis. Portanto temos janeiro, mês engraçado. O resto vai-se sonhando e há vezes em que se acerta. A divergência mais profunda entre os meus planos e os do Carapinha são para lá, quando chegarmos a Maputo: ele quer ir por um mês e fala em ir para "o mato" o tempo quase todo, e eu só me acho com estaleca para quinze dias longe do meu cantito e quem me tirar a cidade tira-me tudo, também acho. Sei que muito provavelmente quem por lá encontrar queira obsequiar-me com a parte do 'programa turístico', o Bilene e, quem sabe..., até Ponta do Ouro; mas eu acho que há tanto para ver e rever na cidade que os quinze dias até serão curtos, apertados. É que há o dia e há a noite, são duas cidades. Aqui e lá, onde mora muita gente, "uma cidade", tem sempre em si dois lados e quem vê um não pode imaginar que viu tudo pois o outro é como o fato de gala ao pé do fato-macaco, tantas as diferenças sob, aparentemente, o mesmo cenário. Correr a cidade nas madrugadas, escasso o trânsito e muita a luz que amarelece o alcatrão e o cimento dos passeios, olhando-a cidade nos olhos adormecidos, é outra cidade, sempre. O mais bulicioso adormecido é como um gigante adormecido, e Gulliver assustou os pigmeus quando o encontraram na praia, adormecido. Depois organizaram-se e tomaram-no de assalto, sim, e portanto não há mito ou susto que, adormecido, não resvale para a humanidade de ser vergado quando os pigmeus forçam os sustos em medos e desatam a amarrar tudo o que vêm diferente da si, pigmeus. Há ainda os bares, a 'movida', e lá há a voltinha dos tristes da noite, curiosamente com ramal que segue o mesmo mapa da sua congénere dos tempos em que se ia até à Costa do Sol, família inteira, avó incluída, e depois se parava à beira praia e os homens ouviam o relato e as mulheres cochichavam e faziam renda. Lá para os lados do Bairro Triunfo há um bar, ou discoteca, não sei bem, que pertence ao roteiro e pára-se lá a beber um copo quando a bolina nocturna nos navega para aqueles lados. E na estação dos CFM, lá na Mac-Mahon, há um bar com música de jazz, que ate é ou era quando abriu, também propriedade do Rangel, o que agora nada à rasca com a saúde e a quem desejo que arribe, merda para as doenças e um gajo tem é de tratá-las assim, não adormecer senão os pigmeus lixam-nos. Janeiro vai ser um mês do caraças. O Carapinha está a pensar ir até à Gorongosa e diz que leva a mochila. Eu acho que ele está a sonhar com filmes e farto-me de rir. Era giro dois putos janados, de cinquenta anos - eu - e semi-careca - ele -, numa espécie de interail tardio e alongado, de Lisboa a Maputo mas com apêndice aéreo na digníssima BA que faz LON-JOB por quatrocentos e tal euros, bem os dois acabarmos por nos metermos em trabalhos mais próprios dos anos setentas e dos verdinhos dezoito, e ainda fazemos capa a telejornais. Janeiro promete mesmo vir a ser um mês do caraças e tenho de me preparar: onde raio é que eu terei guardado o meu colar de missangas?

Gil, domingo”

Janeiros sonhados: I

entre esta noite e esta tarde, num "Grupo MSN", sonhei assim Janeiro:
(a parte desta noite, quando cheguei do café)
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“sonho com janeiro. explico melhor: não tenho nada acertado para além do acerto do sonho já ter nome de mês que se imagina ideal para fazer a viagem ao contrário, robustecido por uma overdose de canteiros à beira-mar semeados. janeiro é um mês óptimo, não concordam? já lá vão as festas mas ainda há a ressaca, colete amenizador à escapadela cumprido o pacto integral do social. e há o tempo: raspo-me à chuva, vento e frio e vou para a mítica estufa que se deseja nesses tempos, preparado para apanhar um resfriado de todo o tamanho com tanto choque térmico, quando re-retornar. janeiro. janeiro. tanto mês, tanto tempo para sonhar até lá. e, quem sabe se...? eu é que não, nada sei. só sei que se me meteu este nome na cabeça, sonho janeiro e gosto, lambo-me de antecipação. fevereiro é depois - que se lixe fevereiro. janeiro. janeiro. sempre janeiro e em vias mistas, carris, asas e carris. alone pois janeiro é mês de solidões e a viagem é coisa mística, cheiinha de segredos de confessionário. ora não há nada como começar o ano de alma lavada nem que fevereiro março e abril amuem e se queixem do cheiro a chulé de tanta caminhada. que se lixem, viva janeiro!
ainda hei-de pensar melhor no assunto, mas agora é hora de sonhar, sonhar que janeiro é um mês excelente para casar ou enviuvar: ano novo vida nova, não é? turista de janeiro não é um turista qualquer, há isto ainda. é um turista madrugador e não é uma pega de cernelha, à má fila de autocarro com ar condicionado, pacote turístico de promoção na páscoa e no natal. o turista de janeiro age por sua conta e risco e sem rebanho, só vai à praia se lhe apetecer e com sorte nem mete os pés no Polana e no Piri-Piri, que ainda têm as mesas das excursões por levantar, gorjetas da saisson. janeiro, é isso. falta este meio de setembro, outubro novembro e dezembro. vem aí a chuva e vai saber bem pensar em janeiro e esquecer as constipações de fevereiro, março e abril: janeiro vai valer a pena, escolhi bem.
é tudo por hoje.

Web_dos_trains_e_das_'coisas',_como_diria_o_Zeca_Bife_se_lê-se_isto"

quarta-feira, setembro 13, 2006

metadona

Porque é que blogar fica por vezes tão difícil? não é falta de tempo nem de assunto pois há tantas meias-horas para coisas ridículas e bastará abrir um jornal ou um cantito da memória e eis tema, corte e costura.
Desinteresse, falta de motivação? por reserva de intimidade, súbito medo à exposição? desencanto, fastio de Internet? ou apenas porque hoje e ontem sinto-me mais parvo que o habitual? sei lá... o vazio arrasta-se, caracoleia, e estas quatro linhas não são para marcar o ponto: é mesmo desabafo que nem tapa buraco nem enche barriga, alma minha gentil que te partiste.
Até breve*: desejo, sem prometer mais que fé íntima na inevitabilidade da reincidência. Oxalá.
* este truque costuma funcionar: prevejo e já mentalmente escrevo mil e um posts que apaguem as linhas acima - é tradicional e eu não sou especial de corrida.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Espelho meu, espelho meu...

A Theo desafiou-me a entrar numa corrente, e é uma das 'difíceis': nada menos que indicar qualidades e defeitos que acreditamos existirem em nós próprios. Portanto coisa complicada, pois além da cegueira que o nosso espelho de sempre induz, há o perigo de se mentir um poucochinho para esconder, mascarar, alindar o retrato... Não os classifico em grupos de qualidades ou de defeitos: cada um, em determinada situação e perante certo espelho, pode surgir ora num ora no outro. Aqui vai o que me lembrar...
Irresponsabilidade, aloirada com doses de criancice. Continuo a ter em mim um puto que não cresceu, coisa que nem sempre é tão boa como parecerá a quem está de fora dos calções nas alturas em que são precisas 'calças grandes'. Mas retiro verdadeiro prazer nas evasões que pratico para o mundo em que fui (sou?) miúdo, factor que, eu, não posso menosprezar. Se eu não gostar de mim, quem gosta?
Sou um sonhador irredutível. Maravilhoso se ater o onirismo à caixa entre o cabelo e a barba, com escapadelas pela mão direita e na ponta da caneta; desastroso quando deixo a fera à solta no quotidiano e começo a ver castelos onde há moinhos, só moinhos e todos por caiar...
Vaidoso. Vocês, os que me conhecem na vida real e os que me lêm através dos blogues sabem-no bem, bem demais... Recordo sempre, e com muita vergonha, o período pré lançamento do "Xicuembo" em que deveria parecer um Nobel a ensaiar discurso, inchado que nem um pavão. E, afinal... ok, mudemos de assunto.
Sou amigo. Deste orgulho-me, é dos positivos. Falhei com muitos e vezes demais, infelizmente. Mas não minto se afirmar que nunca traí. Este prezar a amizade é também egoísta: preciso constantemente dos carinhos que só os amigos dão - e quando se estão a fazer de esquecidos não me faço rogado: peço-lhos descaradamente, o que também faz de mim um mimado.
Existe a timidez mas fico acanhado em falar dela... Demora 'séculos' até eu "me soltar" numa amizade, numa relação, o lado mais escuro do passeio é sempre o meu preferido e as últimas cadeiras duma assembleia-geral são o meu oásis - isto se for obrigado a lá comparecer. O mutismo é o meu estado social natural e vivo com o maior prazer rodeado de silêncio.
Ok, se me lembrar de mais alguma coisa depois acrescento. Vocês, se acharem falta grave e evidente, coisa que eu esteja a tentar esconder, façam o favor de se servirem da caixa de comentários.
(não a "passo" oficialmente a ninguém; vou acompanhando a sua progressão nas minhas voltinhas de sempre)

segunda-feira, setembro 04, 2006

aproveitando o fim do defeso: quando é que é penalty

É penalty quando o árbitro o marca.
O resto? o resto é conversa de advogados, é entretém da saisson, arrogante masturbação colectiva com laivos de pânico à latente impotência sexual, também auto flagelação praticada em locais públicos para satisfação de pavorosas homosexualidades reprimidas. Os penaltys costumam ter cores garridas e são tão floridos como são, em sonhos íntimos, as cuecas dos ilustres causídicos. Ok. Já está, tinha de aproveitar o fim do defeso. Um dia destes falamos de bola.
Mas recapitulando: quando é que é penalty? é-o quando o árbitro o marca: todo o resto é assim como bater punhetas a grilos ou babar-se a ler um jornal 'da bola'*.
* que eu saiba há três: dois que vendem muito e outro que não se queixa pois ainda nenhum fechou. Claro! falam de penaltys, essencialmente.

O nascimento das lendas

Andei uns bons dez anos convencido que esta estória era das com agá, era real. O Cristo de Alpiarça que veio parar a Almeirim. Recentemente e por razões que agora não têm interesse quis contactar as que eu 'lembrava' como fontes da 'história' e encontrei bocas abertas de admiração "ai é? ora vê lá, e eu não sabia nada disso!"
Sei lá como e porquê fui sedimentando a história na memória, que para mim era real de facto e de jure...
(mas se não aconteceu assim foi um desperdício, né?)

O pôr-do-sol psicadélico

Informo que na caixa de comentários do post anterior chibei-me acerca da adoração laurentina ao deus sol. Mais informo que o que já está já está: não chateiem.

domingo, setembro 03, 2006

Nascer do sol em terras de ma-schamba. Como diz a comentadora, a quem o post é dedicado e que nos dá imagens quase tão belas, "é perfeito"

sábado, setembro 02, 2006

não gostei

Constou-me que o edil mor cá do burgo declarou alto e em bom som que "... o blog adapta-se perfeitamente ao meu conceito de hotel de inúteis."
Tal sobranceria é lamentável, Sr. Presidente. Generalizar com base em ódios de estimação é deplorável. E fiar-se que colherá aplausos por tamanho disparate, pelo facto dos seus eleitores dilectos serem analfabetos de facto ou funcionais, é afirmar, reconhecer e satisfazer-se, em como a incultura é uma sólida base do seu apoio eleitoral.
Urge retratar-se, pedir desculpas. Sob pena de, não as ouvindo em tempo útil, tal ser recordado quando chegar a altura de escolher, escolha que assim ficará muito mais fácil: mais um que vai para o lote dos 'bimbos', grupelho do arroto e do tremoço onde quem pensa não gasta votos e, confesso muito sinceramente, nunca pensei vê-lo alinhar.
(comentário também criticado em mais blogues locais; eu linkei o primeiro onde tomei conhecimento dele)

O Cristo de vila De Cima

Conta quem se lembra que a vila De Cima foi das terras além rio onde a pata da polícia política calcou com mais violência. Embora situada a poucos quilómetros da capital do distrito e duma sede bem municiada em esbirros e grades, De Cima mereceu honras duma delegação local a tempo inteiro pois, conta quem se lembra e é sempre bom recordá-lo, trabalho aos caceteiros era coisa que por lá não faltava. A vila vivia da lavoura e esta servia meia dúzia de senhores que a seu bel-prazer e gosto utilizavam a mão-de-obra como coutada sua, olhando-a com o mesmo interesse com que olhavam o estrume que lhes adubava as terras e as fortunas. Ora, lembram os velhos – que são sempre quem se recorda de tudo, os polícias à paisana serviam-se amiúde dessa espécie animal de fedor desagradável que é o bufo. para trazer a vila e as suas misérias sob açaime. Volta não volta uma conversa à soleira da porta ou em redor duma cartada na tasca do bairro era trazida à liça no posto local, e lá seguiam os proto-revolucionários para a sede distrital onde, com métodos e meios mais sofisticadamente convincentes, tentava-se obter-lhes confissões esmiuçadas. Nestas coisas há sempre suspeitas e circulavam nomes de orelha em orelha, e um dos mais repetidos era o do padre da paróquia, ministro de verbo fácil quando nos sermões invectivava os pecadores e a oposição, e ameaçava com castigos divinos hereges, comunistas e aparentados. Dizia-se que utilizava sabiamente as confissões para extrair denúncias e deslizes às beatas, garantindo assim uma rede de informadoras que cobria todo o lugarejo. A sua igreja, de traço simples mas de sino forte, era bem nutrida em ícones e candelabros, luminárias e altares, e tão rico recheio chegava a ser razão de invejas por batinas limítrofes e mais desafortunadas no património celestial, menos agraciadas com as chorudas e castas esmolas dos senhores da terra e dos seus homens. As acusações de bufo nunca foram dadas como provadas e eram desmentidas com veemência, mais ainda foram quando chegou a hora da reviravolta (há-as sempre, consulte-se um qualquer manual de História).

O certo é que com a chegada da Revolução à vila logo houve quem arregimentasse irado grupo para pedir satisfações ao presuntivo ministro das inconfidências policiais. Reunida no adro a nata revolucionária, a polémica coloriu-se rapidamente pois o padre não era dos de se ficar e, conversa puxa conversa empurrão puxa empurrão, sem se saber bem como aconteceu, à falta de certezas acerca do chibanço batinal a ira voltou-se para a suspeita opulência do templo, ademais incompreensível numa terra onde a maioria da população só usava sapatos para casar ou ir à missa, ambos coisa rara. O alvo foi a mais recente aquisição do cura, um altaneiro Cristo na cruz, cuja, per si, não mediria menos de impressionantes três metros, além do rigor impressionista com que as chagas brilhavam à luz das velas. Reinava sobre o altar-mor (havia um menor utilizado em cerimónias de pendor e ‘contribuição’ mais... populares) e o Cristo na cruz da vila De Cima era afamado em todas as paróquias vizinhas, nenhuma com crucificação passível de lhe fazer sombra. O desaforo ao santo foi incontido, e nem padre nem beatas lhe puderam valer: a insultos tantos foi carregado em ombros e deitado à vala, num prolongar do milenar martírio que acabou por desaguar na vizinha vila De Baixo. Já conto como, e também do epílogo que não o é, pois a saga do Cristo na cruz de vila De Cima está para durar... A dita vala, hoje causa de maus cheiros e mote de eternas promessas eleitorais, era na altura do relatado quase límpida, e muita miudagem e muitos amores floresceram nas suas águas, sendo navegável por quem nela se arrojasse entre as vilas. E foi-o à força pelo dito Cristo na cruz, que, boiando e por milagre não encalhando nas raízes dos salgueiros, deu à costa na raia de vila De Baixo onde foi descoberto, por certo exausto e quase constipado, por quem, atónito, fez o que qualquer um faria perante tão santo achado: o padre da vila foi chamado com a urgência de quem acredita que a Ressurreição estava a acontecer, ali e agora. Os campos que medeiam entre o fim do casario e a vala, então providencialmente em época de pousio, foram vencidos num galopar que fez esvoaçar batinas e alvoraçados corações: ali, em vila De Baixo, onde nunca nada se passava, estava a acontecer um milagre? a sua dedicação à causa divina merecera a maior das recompensas, o Nobel da cristandade? ou tratava-se de alucinações da época, estio tão forte que esquentava ardores em mentes insuspeitas de tais arrojos? Nunca o cura de De Baixo correu tanto, olhos em alvo no grupo que se formara junto à vala e o coração parecendo querer explodir de desassossego. Se as desilusões com a realidade fazem-na afastar-se dos sonhos e das esperanças também não é menos verdade que o que sobra, o que o destino traz, tanta vez vai mais além de fraca consolação e, mesmo sem dar a taluda, oferece de mão beijava chorudo prémio aos que têm fé. De imediato reconheceu no náufrago o invejado Cristo vizinho, o gigante de três metros que, em De Cima, ofuscara qualquer terreno desejo de mais luzes na ribalta aos altares da vizinhança. Assim foi acolhido em vila De Baixo o Cristo na cruz de vila De Cima, com triplo estatuto de ícone sagrado, refugiado político e objecto de vaidade, e por lá reinou no altar-mor que lhe foi de imediato dedicado, altaneiro nos seus três metros, durante umas boas três décadas.

A ampulheta não pára, vira e revira-se, de tanto se virar até as eleições edis em vila De Cima perderam o seu tom vermelhusco ganhando um conciliador ar róseo, e uma bela tarde em que as confissões terminaram mais cedo e não havia beatas para papaguear, o novo padre de De Cima resolveu tirar a velha lenda a limpo e, a pretexto de telefonema de cortesia, ligou para o colega de De Baixo, queixou-se da crise da fé e dos casamentos e baptizados, das esmolas, do tempo, até da pobreza das oferendas das beatas se serviu até que arranjou coragem para, junto do estimado colega e amigo, saber de novas acerca do asilado e, já agora, se não estaria na altura de pensarem em restituir o Cristo ao seu altar natural, i.e., o de vila De Cima, está claro. Será escusado referi-lo mas mesmo assim faço-o: de então para cá as duas paróquias estão em guerra aberta e já houve dois casos de casamentos mistos com oficiamento negado, um para cada lado. O bispo, lá na capital distrital, está farto dos De Baixo e dos De Cima e recusa-se a recebê-los se vierem às lamúrias do costume. As câmaras e juntas de freguesia foram mutuamente aliciadas para a disputa e o pároco de De Baixo até tentou comover o notário da terra para declarar a posse por usucapião do náufrago da revolução. Usam-se todas as armas, extremam-se as posições. Os fiéis evitam encontrar-se pois, sabem-no por experiência própria repetida amiúde, não demora a as conversas descambarem para o assunto de que se fala e acabar tudo ao sarrabulho. As razões dum e doutro lado são atendíveis conforme se more em vila De Cima ou em vila De Baixo: se uns invocam os exageros revolucionários e até recordam as nacionalizações da época que posteriormente tiveram de ser indemnizadas, os outros alegam que o acolheram das águas, cuidaram das suas chagas e oraram-lhe com uma dedicação e fervor que ‘os outros’ nunca tiveram, e prontificam-se em colectarem-se para uma muito pia indemnização se a questão é o vil metal. Inconciliáveis.

O resto da história do Cristo na cruz de vila De Cima que passou a vila De Baixo será um dia escrito. Como as valas são como os rios e a água corre sempre no mesmo sentido, a correr mal para o crucificado a próxima paragem será em vila Mais Abaixo. Onde, soa-se, pelo sim pelo não já há piquetes à vala e, lá dentro doutra modesta igreja, há esperanças e lugar marcado. Disso contará quem, então, se recordar.

sexta-feira, setembro 01, 2006

"Cromos" I: as vidas do Roque

Há uma semana que não edito nada e sem nada no bolso que valha a pena mostrar: muitas dúzias de linhas começadas mas muito justamente abandonadas. Há pouco, e por causa duma conversa sobre histórias e estorietas locais, lembrei-me do "as vidas do Roque", já coisa para quase um ano. Fui-o buscar e entretive-me a aligeirar o texto. Republico-o assim. À falta de 'originais' sai mais uma rodada para a mesa do canto, digo, para a mesa do Roque:
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"Ao balcão está o Roque que eu já não via há meses. Está completamente bêbado e oscila perigosamente, os olhos vítreos vagueando pela sala quase vazia em busca de quem lhe dê atenção. Por vezes eleva o seu falar sozinho e o tema recorrente percebe-se na algaraviada bêbada em que se perde: a guerra colonial. Há mais de vinte anos que conheço o Roque e até já lhe aturei algumas bebedeiras e o tema não varia, sempre a guerra colonial. Diz-se por aqui que ele veio de África maluco, apanhadinho da cabeça. Que começou a beber desalmadamente quando foi desincorporado após os anos de Força Aérea. Eu, que vim depois, já o conheci assim. Bêbado e louco. Quantas estórias há para contar acerca do Roque, das maluqueiras do Roque… «Sentido! É pá! Sentido!» O vozeirão eleva-se e a mão volta a agarrar o copo. Ele não precisa de beber mais para ficar bêbado. Será um dos tais doentes do álcool que com dois copos ficam logo estragados, alcoolizados. E, hoje e pelo que nele vejo, a conta já se perdeu muito para além do que os seus passos dançantes costumam tropeçar.
Foi funcionário público e trabalhava em Santarém no Instituto de Emprego. Calhava que, querendo falar-se com ele no período pós almoço esse burocrático intuito só era possível indo ao seu gabinete público nessa parte nobre do horário à causa: a taberna do Quinzena, lá perto, onde ele e o Madeira, seu colega de ofício e de amores líquidos, almoçavam religiosamente todos os santos dias de labuta estendendo os digestivos ao correr do relógio de ponto. Era lá, no Quinzena, entre pataniscas e jaquinzinhos mais um jarrito de tinto, que se tratava de certidões, etc. Depois reformou-se e o Madeira, consta, não lhe resistiu muito mais e tornou-se abstémio por falta de quórum. Há quem diga que a sorte do Madeira foi o Roque ter-se reformado: curou-se desse afogar inevitável para que caminhava todas as tardes de segunda a sexta-feira. E a sorte do Roque, onde é que se perdeu? em que savana ou picada a deixou?
O Quinzena lá continua, a mobília e a fauna renovam-se mas sempre com aquele ar de tasca e de bêbados castiços que faz as delícias dos turistas pelas bandas scalabitanas. Certa vez até mereceu honras de visita e de almoço dum Presidente então no activo, por acaso o tal que quis repetir a dose sem ter colhido muitos entusiasmos à volta da ideia. Quem sabe se, com nova visita ao Quinzena, um magusto à maneira e meia litrada no bucho, não teria reconsiderado intentos e tornara-se de vez colega do Madeira e do Roque... – falo de reformas, é claro.
Que me lembre a última vez que me rira com o Roque foi após ter saído no “Almeirinense” uma reportagem sobre o seu julgamento por embriaguês ao volante, com uma daquelas taxas que faz salivar jornalistas. Dizia que no ilustre libelo constava que o dito cujo se arrependera de todos os males cometidos aqui e além mar, jurara pelos netos que beber era verbo do passado, e comprometera-se a deixar de conduzir durante os meses de castigo que, sabia-o e declarava aceitar, lhe calhariam em sentença: uma jóia de arrependimento, um exemplo social. Ora bem, naquela tarde de domingo estávamos no passeio em frente ao café a remoer o almoço e no dolce fare niente, quando passa o Renault 5 do Roque com o próprio, claro está, ao volante. Pelo caminho que seguia ia para a bola e a gargalhada foi geral em todos os que assistimos à sua gloriosa passagem, indiferente ao trânsito em julgado de sentenças que ignoram os grandes e os pequenos prazeres da vida. Sabendo nós que o campo de futebol estava e está entrincheirado entre as tascas do Batista e do Botas, pelo sim pelo não servido com bar interno e mais uns outsiders bem localizados na vizinhança, o resultado do jogo era público e não constituía segredo: a pretexto de vitória, derrota ou empate a bebedeira era certa e o Roque não abandonaria o campo sem ser em glória e ao volante do velho chaço!
Neste entretanto em que conto o que dele me vou lembrando ele já recolheu à rua e pelo sentido dos passos vai para casa. Se não houver desvios não há riscos pelo caminho pois são ruas de pouco movimento e ele não mora longe, sem cafés ou tabernas no trilho mais directo. Poderá aproveitar a passagem pela igreja e nela recolher cansaços e montar apeadeiro até chegar à cama. Sei lá... "O Roque é maluco" (sabe-o qualquer um que aqui more) e os caminhos dos loucos são tão imprevisíveis como criativos... Conta-se - de tal não sei pois sou ainda novo por aqui, que, certa vez, vinha o Roque de Santarém montado no seu belo carrinho e numa bebedeira não menos bonita quando, à saída da velha ponte, deu de caras com uma operação ‘stop’ da GNR local. Ora a última das suas vontades seria parar e portanto esmerou-se em acelerar a caminho de Almeirim, crente nas delícias da protecção da sua terra de sempre e, também, em que facilmente venceria o despique como o tradicional velho e gasto jeep dos gêeneérres. Dito e feito, cortou meta isoladíssimo e assim passou em frente ao decano dos cafés da terra, o ‘Império’, onde nas noites de verão se juntam na esplanada os grupos de sempre, clientes da casa desde o tempo em que lá iam comprar pirolitos. O Roque achou que a vitória estava insonsa e não foi de modas: no cruzamento em frente à esplanada tratou dum vistoso peão e sentou-se em cima do capôt, braços cruzados e cara patibular fixa na linha negra da estrada que vem da Tapada, à espera dos derrotados, os eternos segundos classificados desta sua velha competição que lhe vítrea e liquefaz o olhar.
Não me lembro se me contaram o desfecho mas ele também pouco interessa. Não é uma multa ou uma noite mal dormida que destrói o mito dum “cromo” local. A pequena história desta terra também passa pelas suas figuras típicas, “os cromos”, e o Roque é um deles para uma geração. O pormenor da guerra colonial, infelizmente, pouco é referido. Justa ou injustamente não sei, pois se há quem garanta que na origem do alcoolismo está um drama familiar dos mais traumáticos, não há quem possa garantir que se ele tivesse feito tropa na Ajuda ou no arsenal do Alfeite não seria o que hoje militantemente é. Estala-me a dúvida sempre que o vejo em seu estado de graça, o linguarejar de bêbado gritando: «Sentido! é hoje!» e o olhar perdido não sei onde, olhos brilhantes e fixos, alcoolicamente fixos na merda do passado que teve de gramar. Boa sorte Roque. Que encontres sempre facilmente o caminho para a tua cama, para o teu sossego: mata de vez a tua guerra e esquece a outra, seja ela qual seja. Terão sido siamesas, acredito. Mas tantos anos e copos depois está na altura de enterrares ambas, e nem mais uma gota por favor."