terça-feira, março 27, 2007
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
sexta-feira, março 23, 2007
gramática, gramática... :-)
Redacção feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.
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"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva."
... e vem assinado "Fernanda Braga da Cruz". Parabéns a ela, ou a quem quer que tenha criado esta bela peça de português.
explosão de paiol em Maputo
quarta-feira, março 21, 2007
terça-feira, março 20, 2007
puzzia do dia das poesias
em que por pudor uso silêncio
todos os outros minto:
minto à musa, minto à poesia, à rima
e até a mim um trauteio invento:
digo-me vate, faço puzias,
em poemas sou profícuo e vasto.
mas escondo-me por vergonha no dia
que da poesia fizeram monumento.
nesse dia, faça chuva ou sopre vento
riam-se as musas e assoprem-me a rima,
nesse dia, poesia, eu não faço.
aquele que dizem já ser amanhã,
dia em que se rasga a má rima e pisa-se o descaramento
de sem vergonha dizer, com lamento,
deste dia não ser meu e, até
se rimar, até disso,
hoje eu, por pudor,
rasgo este papel e guardarei silêncio.
(o Santo Google tem destas coisas, e é uma forte razão para gostar tanto dele: escrevi "puzia" e uma das imagens que deu era esta. sem link, qualquer coisa em germânico tipo "error 404"...)
filo-café no Porto
Filo-Café: Ritos e Rituais
24 Março 2007, 21h 30
Clube Literário do Porto
Rua Nova da Alfândega, 22 Porto
Pensamento, Antropologia, Poesia, Música, Fotografia, Vídeo-criação, Performance
Durante o Filo-Café será apresentado o livro Amalaya (poesia, bilingue castelhano-português) de Sílvia Zayas.
Com: Abel Morán (León, performance), Alberto Augusto Miranda (Castelo de Vide, org), Alexandra Bernardo (São Domingos de Rana, música), Alexandre Teixeira Mendes (Porto, pensamento), Alice Valente (Lisboa, artes), Amilcar Mendes (Porto, poesia), Aurelino Costa (Argivai, poesia), Belen Sola Pizarro (León, performance), Carlos Gil (Almeirim, letras), Conceição Paulino (Porto, poesia), Deborah Nofret (Ponferrada, performance), Henrique Doria (Porto, poesia), Jorge Taxa (Porto, pensamento), Luz Gomes (Monção, poesia), Nuno Rebocho (Lisboa, poesia), Pedro Sena Nunes (Lisboa, vídeo-criação), Rogério Carrola (V. N. Sto André, poesia), Rosario Granell (León, performance), Sabela Arias (Corunha, vídeo-pintura), Salviano Ferreira (Oliveira do Douro, poesia), Silvia Zayas (León, performance), Teixeira Moita (Braga, literatura), Teresa David (Lisboa, fotografia)
Todas as informações: (00351) 965817337, ou pelo blogue incomunidade donde, aliás, gamei a fotografia e a notícia, após ter sido e-avisado e mandado aviso de que 'apareceria'.
masturbações
segunda-feira, março 19, 2007
Tenho das chamadas memórias boas e, nelas, eu de ti, pai, tenho as melhores: de, puto de calções, aos domingos de manhã cumprirmos o 'nosso' ritual e íamos só os dois à Baixa da cidade; ou numa feira do livro na praça 7 de Março, quando lá as havia em volta do coreto, ou então numa papelaria, eu escolhia um montito de revistas de BD e íamos até à esplanada do Continental - o teu café de eleição. E, de em família, passearmos nas noites quentes a ver as montras, esse exercício familiar que era agradável, mais o era pelos momentos que eu e tu passávamos de olhar perdido em sonhos próprios, em frente das montras das casas de ferragens e ferramentas, a olhar a aprender, mais do fomento do sonho - herdei-o de ti, isso é-me hoje indiscutível! -, também os 'carimbos genéticos' da masculinidade que me permitias, imprimias. Se falo dos momentos familiares, dos bons, recordo aquela instituição laurentina que era a 'volta dos tristes' até à Costa do Sol, no regresso o carro estacionado no começo da areia, os relatos de futebol e as brincadeiras, o lanche que a minha mãe sempre levava... e isto na VW Kombi - meu pai era padeiro (a Lisboa nas Lagoas e a Lafões no Malhanga, nesta como 'gerente' do meu tio, o Dionísio da Serrano ao Alto Maé) e só quando fomos para o Malhangalene é que teve uma pastelaria - a Veneza ao lado da Casa Conceição, "tão pequena que nunca lá aportou a gôndola do sucesso" - pois, já mais tarde desses tempos veio o Simca Aronde e a carrinha Daihatsu.
Lembro-me, lembro-me muito, dos teus livros. Muitos, carradas de livros policiais daquelas da colecção Vampiro, mais os Dick Haskins e tantos mais, os livros de best-sellers como os de Irving Wallace, o Conde de Monte-Cristo, calhamaços que nem me impedias e até 'ajudavas' sugerindo agora este, agora aquele... não gostava da selecção que fazias aos policiais e surripiava-te sempre que podia os outros, os escondidos em baixo do monte, aqueles onde além do sangue & tripas havia beijos e amassos, páginas que se tornavam encaloradas e húmidas enquanto os devorava escondido na casa-de-banho de todas as descobertas e iniciações. E, de livros ainda, recordo-me com um sorriso muito especial, terno, grato mas acima do mais terno, de, aquando da minha fase dos 'Os Cinco', da Enid Blyton, andares com a lista dos em falta na carteira para, quando ias aos alfarrabistas em busca dos teus policiais, sempre me trazeres uma prenda, uma novidade, um dos em falta. A tua biblioteca e a de poesia da mana foram os meus 'clássicos', e o ter perdido Eça e outros com essa singular selecção, acho-o conclusão mais do que discutível...
Mas o melhor que recordo era o nosso passeio na Baixa às manhãs de domingo, só tu e eu. Ainda sinto a tua mão no meu ombro, sabia-me bem na altura e hoje sei que me saberia bem senti-la, talvez hoje nos entendêssemos como, àquela época, ainda o fazíamos mas já por muito pouco tempo.
Desses momentos na esplanada do Continental, em que tu lias o Notícias e eu a banda desenhada, há um momento que nunca te contei e aproveito agora: não me caçaste. Na tarde anterior, sábado, eu tinha rogado em casa para deixarem-me ir de machibombo até ao autódromo ver os treinos para as "3 horas de Lourenço Marques" - já então tinha o fascínio pelos vrum-vruns... e que não, e que não, é muito perigoso e longe e sabe-se lá quem lá anda, e não e pronto e estás proibido. E eu fui, está claríssimo que fui, que entre machibombos e boleias pedidas lá cheguei ao autódromo do ATCM, extasiado com a beleza dos bólides, os heróis ali à minha vista, a cada ronco dos motores eu imaginava-me dentro deles, ora neste agora naquele... a minha paixão e a minha desfaçatez foram tantas que, sei lá como, consegui infiltrar-me na zona das boxes para ver ao pormenor as máquinas e olhar esbugalhado os deuses de fato-macaco e capacete! Adorei aquelas horas fugido, e regressei como era mais que óbvio! - eu Tinha razão, não era? - são e salvo a casa, sei lá que mentira inventada a justificar uma tarde desaparecido. Pois bem, naquela manhã seguinte, lá na mesa do café, olho para o jornal que lês, à maneira clássica com ele levantado pelas duas mãos e, nas folhas viradas para mim vejo uma reportagem sobre a sessão de treinos da corrida - que seria nessa tarde!..., documentada com algumas fotografias: numa, debruçado sobre a traseira dum Chevron B8-BMW que era lindo de morrer, a examinar por certo minuciosamente o motor e redondezas, a cabeça naturalmente baixa por inclinada e a face em tons mais semi-indefinidos tons cinzentos na fotografia, estava eu... aliás, a roupa era indesmentível… o que suei fininho, o que deverei ter inventado para, nessa manhã, se abreviar o ritual de leitura 'pai-filho' na esplanada do Continental... Salvei-me, salvei-me por certo dum enxerto de porrada pois, se até poucos leveis, sabia já por experiência que a 'infracção' que cometera era razão sem apelo para 'comê-las', mais outros castigos que ainda viessem. Mas safei-me... bom momento este, que recordo.
Mais tarde incompatibilizamo-nos profundamente. Pouco depois faleceste e disso e disto não estou preparado para falar. Hoje, para além da natural pena de não ter vivo o meu pai, avô dos meus filhos, acresce a da certeza que, com tolerância e aceitação mútua de maior empenho que aquele que tivéramos, íamos 'entender-nos'. Íamos, pai, tenho a certeza. Que é do tamanho da falta que sinto de ti, hoje, hoje e há tantos anos a mais.
Carlos F. M. Gil Barreiros
domingo, março 18, 2007
bolo de blogger
(bolito e anexos daqui.)
sábado, março 17, 2007
Ota vs Rio Frio
quinta-feira, março 15, 2007
cartas a Inês*
quarta-feira, março 14, 2007
young thieft?
segunda-feira, março 12, 2007
Rondó purgativo
Que merece essa gentalha feia
que abusa da paciência alheia?
Cadeia.
Que prémio é justo para a insensata
e malfeitora turba canalhocrata?
Chibata.
E a canalha inveterada de topete
que ostenta pose de suspensório e colete?
Cacete.
Aos crápulas que fazem barulho à noite,
que Satanás os acoite.
Açoite.
E os primatas dos tempos da cova,
por essa algazarra merecem que prova?
Sova.
Que remédio cura a palhaçada,
a pândega dessa corja safada?
Porrada.
Cadeia, chibata, cacete
é pouco pra este cacoete.
Açoite, sova e porrada
para essa esculhambação não é nada.
Márcio Catunda, "Sintaxe do tempo", 2005 ed. Imprece, Fortaleza, Brasil
(imagem de capa do livro igual ao que 'ganhei' na quinta-feira à noite, daqui)
domingo, março 11, 2007
11 de Março
O cometa: é essa a efeméride. Tudo o resto é história e é volúvel, tudo o resto gasta-se e risca-se e sobra dizer que é só fado, é nosso envelhecido fado.
ode às musas
todo o sarau falaste de poesia. mas
o que me recorda é a erecção, a estrofe dos lábios secos,
muito provavelmente tesão
do dedilhar do poema mordido,
os sussurros, essa coisa fodida
de toda a noite murmurar poemas e poesia
e o único que recordo ser assim, ouvindo
teus lábios em poética erecção.
(foto gamada aqui)
ardeu o Rosa Damasceno
sábado, março 10, 2007
sexta-feira, março 09, 2007
pontes de poesia
quarta-feira, março 07, 2007
"ler"
"Il y va fort, Pierre Bayard, en publiant un livre qui s'intitule: Comment parler des livres que l'on n'a pas lus! Provocation, pochade? Pas tout à fait. Professeur de littérature et psychanalyste, ce mécréant malicieux met les pieds dans le plat pour aborder un sujet aussi tabou en France que le sexe et l'argent: tous ces livres que l'on n'a pas lus mais sur lesquels on a spontanément un avis, on se sent en droit de disserter, d'autant plus irrésistiblement qu'ils constituent le B.A.-BA de la culture soi-disant «classique». Rien de répréhensible à cela, soutient Pierre Bayard, au contraire. Et de se lancer dans un étonnant plaidoyer, sous les auspices d'illustres prédécesseurs tels Paul Valéry et Oscar Wilde, eux-mêmes très décomplexés vis-à-vis de la lecture. «Etre cultivé ce n'est pas avoir lu tel ou tel livre, c'est savoir se repérer dans leur ensemble, donc savoir qu'ils forment un ensemble et être en mesure de situer chaque élément par rapport aux autres», estime Pierre Bayard, prompt à confier qu'il n'a jamais lu Ulysse de James Joyce ni les Mémoires de Saint-Simon, qu'il a tout juste parcouru A la recherche du temps perdu de Proust, idem pour Madame Bovary de Flaubert. Ce qui ne l'empêche pas d'en parler, très bien du reste, à grand renfort de citations inattendues, car la non-lecture n'est pas l'absence de lecture, précise-t-il. Intelligent, caustique, avec un sens de l'autodérision qui l'amène à qualifier de L.O. (pour «livre oublié») son propre ouvrage Qui a tué Roger Ackroyd?(*), Pierre Bayard milite pour que chacun devienne soi-même créateur, parler de livres non lus étant une véritable activité de création à ses yeux. Un propos particulièrement réjouissant en ces temps de surproduction éditoriale: vu le nombre croissant de nouveautés qui envahissent les librairies, vu le nombre de plumitifs toujours au poil qu'il faut lire absolument, difficile de tenir la cadence. Comment l'acheteur de livres pourrait-il se transformer chaque fois en lecteur, pour peu qu'il ait cédé inconsidérément à une promo offensive et/ou aux conseils de son entourage? Résultat: un abstentionnisme dont témoignent tous ces livres placés en évidence sur la table basse du salon ou qui figurent en bonne place sur des étagères, au garde-à-vous, la tranche raide et la jaquette trop immaculée pour avoir été honnêtement manipulée. Grâce à Pierre Bayard, il n'y a plus lieu de s'en émouvoir. Tant pis si Les Bienveillantes (**) ne font pas veiller tous ceux qui l'ont acheté, l'essentiel est de s'autoriser à en parler de toute façon. Comme Beaumarchais l'affirmait déjà dans Le barbier de Séville: «Il n'est pas nécessaire de tenir les choses pour en raisonner.» Il va donc de soi que nous n'avons fait que parcourir l'ouvrage de Pierre Bayard, comme il nous y invite de façon si convaincante! Les critiques littéraires vont finir par lui dire merci..."
(imagem fanada aqui.)
carta encontrada numa gaveta
É do que mais me lembro com saudade, do namoro, os dedos, os olhos, a torrada, o sorriso quando nos víamos, a luxúria revelada em cúmplices segredos beijados trocados, a fatia partilhada. Tudo o resto destes anos tantos, a comida que saiu mal ou o aziago de alguns acordares, a hipoteca que não encolhe ou a velhice que não pára de espreitar encontrando-nos sempre desarranjados, nada disso vale quando me lembro da mesa da pastelaria e do namoro lá, lambendo-nos em ternuras e outras deliciosas pornografias de intimidades que qualquer meia-torrada dá a dedos enamorados, esse lanche saciante do ser e existir, desejar e ser-se desejado.
De quando brincávamos e corríamos um para o outro sempre que podíamos, e se trocava de bom grado a solidão pelo outro, e, se deles então já houvesse arte e uso, duvido que entre nós trocássemos tantos e-mails de anedotas e correntes, maravilhas do mundo e blá-blá, tantos étecéteras onde está ausente o despenteio da escrita íntima que, então os houvesse, eles teriam… – e sorri ao pensar nisso, repara, agora à longa distância entre dois computadores... Recordo-me de quando éramos criativos nos rituais e a vontade de agradarmo-nos fazia nascerem flores nos murmúrios e beijos lisonjeadores, eternos galanteios sussurrados no esperanto da paixão. Como não sentir saudade?
É, recordo-me e saem-me tristezas, neste tampo de mesa de pastelaria dum blogue conto-to, guloso escrevo e estendo os dedos à cata da gordura da fatia do meio da torrada, do amor e da sua fatia que queria repartir contigo num namorar que dói quando já não se lembra quando e como se perdeu, quando a parte mais tenra e que partilhávamos até os lábios se encontrarem diluindo-se, num saciar que só se escreve nessa namorada palavra bela e arredia, triste de tão legível quando em solidão, quando esse tempo acabou e o namoro se escapou porque os dedos já não se tacteiam mais. Nestas cãs mal escanhoadas, sinónimas de memória perdida nas manhãs e tardes dos anos que correram mal, esse tanto tempo longe do tampo da mesa de pastelaria, da sofreguidão dos dedos mutuamente se enamorarem por uma torrada partilhada, uma flor beijada”
Ah, estava já a terminar de a transcrever e a 'fechar' o post e lá me esquecia, vê lá tu…: encontrámo-nos uma tarde destas, partilhamos uma torradita? ;-)
guerra civil
terça-feira, março 06, 2007
dicionário
da Ilha e das ilhas (2)
Assim veio hoje 'ao de cima' mas podia ficar despercebido, lá para trás. Fica o link para curioso: clica-se aqui, versão integral.
segunda-feira, março 05, 2007
de Guy Debord
domingo, março 04, 2007
cagufa da terra vermelha
tudo e nada?
sábado, março 03, 2007
...e porque já é sábado...
sexta-feira, março 02, 2007
da Ilha e das ilhas
Ele avisa que é "texto longo" para blogue. Nada contra em duas ocasiões muito claras, digo eu: a) se esse lençol for meu; b) quando é como o linkado: estou farto de floreados em tinta-da-china, rocócós paternalistas, e sequioso de pincéis que pintem assim, por extenso e em cor forte, pensada. Já há dias o falei a pretexto das reflexões de Elíseo Macamo sobre a pornografia do Poder e a freira devassa que é a Frelimo, e que o "Ideias para Debate" tem divulgado, esse outro complemento quando procuro ler além de "saudosismos" ou "olhares turísticos" sobre a minha outra parte dos tais habitats divididos, a 'tal coisa' de que se fala.
Veio ontem a Segunda Parte, promete e cumpre e é «texto longo» que ainda não li, logo à noite haverá mais tempo. Interesso-me "da Ilha" por, mesmo das tais 'ausentes no meu arquipélago' sei da sua mágica pessoal e da força da sua História porque o ouço e leio e ela é referência-mor quando se fala de encantos, junta-se o espreitar de fotos que dela mostram os romances, contos ou poemas onde tantos dela contam em paixão escrita na sua areia molhada, ilha assim também minha. Ela é "a Ilha" do meu imaginário, tardia substituta da de Crusoé ou a de If.
Posto dois poemas 'à' Ilha de Moçambique, um de Rui Knopfli e outro de Luis Carlos Patraquim:
divulgando
quinta-feira, março 01, 2007
os eleitores não são estúpidos
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
Pike's Peak (o placebo)
dela
- Isto é uma piada? Não, não agora!... Voltem aqui!
Fogem-me as palavras. Escapam-se-me por entre os dedos. Haha, as palavras são matreiras... matreiras e efémeras!
São falsas amigas. Quando há alguma dificuldade, ou quando tu te aproximas, são as primeiras a abandonar o navio (que é como quem diz, a boca). Penso que tenho tudo sob controlo e quando mais preciso delas, é exactamente quando estas me desamparam. Ao finalmente regressarem, já se tornaram novamente inúteis. Coincidência, ou destino? Ironia talvez. Deixo à descrição de cada um. Oh minhas amantes palavras, que, quando se despedem docemente, me deixam entregue aos seus primos Gesto, Aceno e Careta; e que de quanto em quanto, me levam a visitar o seu avô Ridículo, que não é nada simpático.
Palavras são como crianças: inocentes e malandras! Gostam de nos pregar partidas e rir dos nossos maus momentos. Minhas amigas palavras que tão mentirosas são... quantos sonhos vocês criam e como me obrigam a descer vertiginosamente quando o coração me trás de volta à Terra. Haha... Quase um mundo irreal, é o resultado da vossa presença.
Não derramo lágrimas no papel e nem sequer o rasgo pela, acreditem! tamanha raiva que sinto!... Simplesmente sorrio: um sorriso hipócrita e vencedor. Porque as coisas nem sempre correm como espero e a culpa não é do mundo nem das pessoas. Por muito que doa a culpa é minha. Minha, e das minhas palavras. As minhas fiéis companheiras e que me conduzem nesta longa tragicomédia que é a vida.
(Não fui eu que escrevi isto: foram “elas”...)