cagufa da terra vermelha
Além do fabulizar porque as letras caíram para aí, não tenho em altar principal o meu "um dia" de voltar a Moçambique. Logicamente visita com calendário, não sinto como necessidade urgente renovar memórias, esse hoje lembrado amanhã que quando saqueia esse canto ao saco esgota emoções ao tirar os maiores nacos, carne com veio e nervo, terra vermelha e com cheiro.
E há o medo: vir um dia contar-vos que turistei passeios que vivi especiais, não levará à paleta cores além daquelas que se vêm em tarde de funeral com chuvinha mola-tolos, pingo que não empapa mas molha, coceira prima-direita da fustração dum olhar 'estrangeiro' onde não quero senti-lo: cagufa*. Cagufa de serem apenas escrita e rosas no regaço, senhor; ficção mal compartimentada e até, em catástrofe, decapitação matricial do eu-narrador que nenhum rei ou editor vingará em santa edição póstuma: eis o umbigo exposto.
Quero olhá-la, cidade, com o mesmo espanto do folhear páginas a diário que estavam coladas, e até acabar algumas em branco, quem sabe; não quero em nenhum momento precipitar-me num posto de turismo na angústia do perdido entre xis dias de férias por gozar e sem saber que fazer se não seguir o rebanho fotográfico habitual. Quero 'retornar' no tempo próprio, sereno em mim e, quando me calhar pensar que o morrer já não está assim-assim distante, salvo acidente encontrarei e seguirei o rasto tribal e faço ninho definitivo num canto, naturalmente. Porquê a impaciência? além do fabulizar porque as letras caíram para aí, nada mais há qu'a lembrança do cheiro do chão quente que vem do tinteiro em terra vermelha, aqui ao lado. E nada mais tenho, confesso: é do medo ao seu cheiro o esvair, raspado, este cuspo na ferida, este sarar de tinta escrito que fala dum dia voltar a sentir o bafo quente do cheiro a terra vermelha chuvada, "a caminho de casa". Até lá esgravato papelitos e apontamentos, dobrados no fundo da gaveta do passado, ficciono que há tanto por escrever...
Percebem?
* obviamento 'medo'; mas cagufa é mais bonito e eu tenho a mania que sou escritor
(sem imagem e sem link)
7 Comments:
Retorna-se de muitas maneiras mas nunca se poderá ser "turista" em terra da qual ainda se sente o cheiro.
"...mania que sou escritor..." mania essa que se revela nestas pedaços de excelência que o amigo partilha com quem visita este seu cantinho. Boa semana.
O mal mesmo, o pior de tudo é querer ser turista onde se amou, viveu juventude, sonhou, onde a terra é vermelha também de sangue e sofrimento.
Uma que resolveu bem essa saudade, aceitando a realidade.
Acho que o pior é descobrirmos que somos mesmo turistas por não conseguirmos colar as nossas memórias à realidade crua que se nos apresenta...
mafalala (?):cagufa: confirma-se :-(
barão: ainda te proíbo a entyrada :-)
th:eu sei lá se é 'para resolver' ou é outra das minhas taradices que 'fique assim'! não podem haver masoquistas na escrita? :-(
e-clair: viste-me o sonho! acredista-me em como eu me acredito no sentir(-lhe) o cheiro?
:-)
acreditas-me
claro...
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