domingo, julho 30, 2006

o regresso da alta costura









Belos tempos houve em que se comprava um automóvel em duas fases: no construtor o conjunto chassis-motor, depois ia-se ao 'costureiro' fazer a carroçaria segundo desejos e amores. Nasceram assim muitos modelos únicos, então motivo de vaidade e orgulho para os proprietários e hoje das peças mais belas das colecções dedicadas a essa 'coisa' que, além de prática, pode ser bela como poucas o são: o automóvel. Reporto-me às décadas de vinte, trinta, do século finado.
Sempre houve "edições especiais", produções de fábrica com número limitado de exemplares que, assim, conferem aos donos a exclusividade limitada e a mais-valia do seu investimento. Ferrari, Maserati, Porsche, Aston Martin, Lamborghini, são das marcas mais conhecidas que usam o 'estratagema' para orlarem os balanços com números engraçados: veja-se o caso do muito recente Ferrari FXX, vendido (lá fora...) a milhão e meio de euros a unidade, antes de taxas fiscais, cuja produção de somente 20 exemplares esgotou num ápice após ser revelado. Sim, há outros que custam isso e até mais, Bugatti Veyron e mais alguns, mas o FXX tem características sádicas para o proprietário: não foi homologado pela fábrica para circular em estrada nem é por ela autorizado a participar em corridas. Ou seja: ao dono-piloto resta-lhe expô-lo na sua casa - como obra de arte que é - ou alugar a pista que lhe dê mais jeito para dar umas voltinhas com os amigos. Claro que com tais limitações a maioria dos vinte felizardos optou por deixá-los em Fiorano e quando lhes calha dão lá um salto para, assessorados por técnicos do 'cavallino rampante' e, com sorte, com lições ao vivo dum dos pilotos de Fórmula 1 da casa, dar umas ricas voltas no circuito particular da fábrica. Porém o seu FXX tem dezanove irmãos, tal como o Maserati MC12 tem trinta e tal, o Carrera GT da Porsche somou quatrocentos e o SLR McLaren da Mercedes-Benz ainda mais, o Murciélago da Lamborghini soma e segue, etc, etc...
Recentemente surgiu uma 'bomba' nos sites especializados no belo tema: com inspiração no belíssimo Ferrari P4 que passeou as suas dengosas linhas nas pistas mundiais dos anos 60's, o atelier Pininfarina produziu uma jóia única para um cliente americano, James Glicklenhaus, dos tais também peças únicas: além de endinheirados também com bom gosto: o Ferrari 612 P 4/5, esse das três primeiras fotos e das que se vêm após aberto o link. Poucos meses antes a casa Zagato, para um 'colega' japonês do americano, Yushiyuki Hayashi, produzira outra peça única, o Ferrari 575 GTZ (o das últimas três fotos, mais as que se vêem clicando no link)
Sei do orgulho de quem tem em casa um Renoir ou um Van Gogh autênticos, coisa que para além dos muitos milhões que custam dão especial prazer em vê-los pendurados na 'nossa' sala: sei-o pois eu tenho 'Carlos Gil' autênticos, também eles peças únicas, prazer à minha medida pois não tendo milhões nem vergonha pintei-os eu próprio. Dos exemplos pintados retiro ilacção para os rolantes apresentados. Do gosto que será por as mãos no volante destas jóias ou só olhá-los, do lugar que obtêem por virtudes próprias e pelo parto singular na galeria da História do Automóvel, la bella machina, estatuto possível pelo regresso dos costureiros de carroçarias únicas, dispendiosa espécie que se julgava extinta. Felizmente não, e o futuro agradece: a nossa época automóvel será retratada com mais beleza por acção destes artistas e com a benção destes magnates, em proveito próprio é verdade, mas mesmo assim mecenas autênticos da arte de carroçar automóveis únicos.
Bem, já falei do meu gosto, meu prazer muito solitário. Agora hesito se vou pintar mais um quadro ou se vou a uma loja chinesa (nunca fecham!) comprar mais umas ferramentas: estou a pensar um dia destes começar a construir o meu automóvel único: James Glicklenhaus e Yushiyuki Hayashi merecem companhia e nem Pininfarina nem Zagato me amedrontam: no máximo inspiram-me.

1 Comments:

Blogger indigente andrajoso said...

eu tambem quero um aston martin...

1:02 da tarde  

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