terça-feira, maio 09, 2006

"A" crónica de viagem nº 4


Estou há dois dias numa cidadezinha chamada Auvignons-sur-qualquer-coisa, no sopé dos Alpes. E teso. Eu explico:
Lá, em Paris, num arondissement qualquer ou lá como raio chamam aos bairros, numa noite em que a mochila pesava demais, as horas não passavam e os pés já doíam, o anúncio pareceu-me impossível de ignorar: "french can-can". Havia toda uma Paris que eu imaginara e ainda não vira, embora com a certeza íntima de que ela existia. E doíam-me os pés.
Finda a noite e adeus às princesas - de todas destaco a vamp Rose, na glória do seu ocaso marlene-dietricheano, - disse adeus à Holanda e pensei em como regressar à partida em regime definitivo de hamburgueres e croiassants. Adieu, até outro dia eu agora vou mas é descansar, Paris no papo.
Ainda podia voltar pelo Sul embora com muito menos paragens, mas havia baús abertos e à espera de serem cheios de arquivos que só ao Mediterrâneo cabiam. Apanhei o primeiro comboio nessa direcção.
O mapa foi-se inutilizando ao ritmo da minha descoberta das letras pequenas dos mapas grandes. Umas vezes porque há que mudar de comboio, outras apenas porque se tem o impulso irresistível para sair 'na próxima', numa noção vaguíssima de onde nos situamos.
E caí aqui. Passo as tardes sentado na beira do passeio lá na praça grande, de vez em quando escrevo noutras desenho, às vezes até dormito. Estou assim há dois dias e acho que ainda aguento mais um ou dois.
Depois sigo o mais directo possível a Cannes, agora que já tive um cheiro e um olhar (algo longínquo mas é um olhar) dos Alpes. E da praça - vejo-a e escrevo-a constantemente.
Daí... sei lá! depois conto, até porque a única coisa que se faz capaz dentro dum comboio é ler e escrever. Mas antes do fim-de-semana estou em casa.
(o lindo comboio estava estacionado aqui)