Crónicas de viagem - III
"Interrompi a viagem e saí aqui, nesta cidade a que não fixei o nome, e procurei um net-café (em Bordéus eram imensos, deve ser coisa geral) para deixar editado este esclarecimento em relação à crónica anterior, para quando voltar a Portugal e for ler pausadamente os mails acumulados não ter protestos com a má ideia que um comentário menos preciso, pode causar.
Aquela conta disparatada que paguei numa pastelaria na tal praça de Bordéus, à volta de seis euros por uma bica e um croissant, foi caro mas só seria um roubo se o croisant não fosse recheado. Já não sei ao certo com quê, mas penso que não foi com doce. Por aqui, as vitrines estão cheios deles, assim ou assado, recheados com tudo ou mais alguma coisa: nas maiores croissanterias - já entrei numa, lá em Bordéus - escolhe-se o tipo e tamanho do croissant (há desde minis a uns do tamanho dum frango assado), e o recheio: há uma variedade tal que se olha com esperança a carta, à procura dum jámon ou coisa parecida. Arraçado de pastéis de nata por aí, não há vão d'escada que não os tenha. Tenho fugido até ao momento aos Mc Donald's, pelas sopas da Inez (a de cenoura com agriões e sementes de liósfines estava óptima) e também pelos croissants... E que raio é que se comerá na Holanda? bolo de arroz?
Bem, feita a explicação do não-roubo-mas-quase, passo ao meu amor pelos franceses e encerro esta parte. Tenho comboio às 17:44 para Paris, e tenho de lembrar de mandar o toque de telélé para casa. Quando chegar a Amsterdão e parar uns dias para ganhar fôlego para a viagem de regresso pelo Sul, depois acerto o que se passou em Bordéus com a Pauline e a Vivian, ela luso-francesa, e esta, sua prima, mais francesa-lusa que outra coisa. Foi uma tarde bem agradável em que conversamos de muita coisa, eu na minha ignorância do vivido em França, e elas do sabido acerca de Portugal. Vivendo-se no "estrangeiro", em muitos casos a escola toda feita lá (cá), sem relação familiar com "o país dos pais", vejo como muito natural que Portugal se lhes seja o 'estrangeiro' menos estrangeiro, mas a sua realidade social é do país onde vivem, viveram, e mais conjugações ao verbo 'sentir-se em casa'.
Ando por aqui há dois dias e meio, e o meio não conta pois foi passada de comboio a atravessar Espanha, noite, e toda a gente dormia; mas mesmo em tão pouco tempo já olho para Portugal e imagino-o como uma terra longínqua, tão longe como quando um cão se perde e cheira todos os cantos, à procura do seu forte e paraíso. Daí, e da conversa com elas, o ouvi-las e vê-las nos pormenores da acção natural de viver ali, naquele espaço que é o 'seu país', o meu entendimento pelo seu afastamento ao conhecimento do que se passa em Portugal, para além de quem ganhou as eleições, alguma música, ou título de jornal ou coisa que passe na tv cabo de cá.
Hoje comprei um jornal, um diário pois a imprensa é mais cara que aí, e os semanários upa upa, e até tentei uma ligeira 'conversa com o vendedor, meras banalidades cortezes para ensaiar o banal. O problema ainda é o 'falarem depressa demais'. Ainda estou a traduzir 'o que ele disse' e já a conversa vai adiantada, e perco-me. Quem sabe se não chego a Espanha poliglota, e ninguém suspeitará que o cota está de regresso a casa mas, sim, um espião turco em visita exploratória, disfarçado de cigano romeno. E venha o Kusturica, fazíamos um filme sobre um inter-rail cigano, que era uma maravilha!
Vou fechar o post. Cada hora de net não é cara: um euro e meio, está nivelado com os preços daí, mas já aqui estou há quase uma. Só quero dizer que tenho dormido menos mal: as duas primeiras noites foram em comboios, e não tenho termo de comparação pois já nem me lembro da última vez em que dormi num comboio, em Portugal. Não são maus, principalmente este último. As cabines são modernas, e os bancos deitam-se um bom bocado, ao mesmo tempo que rodam ligeiramente, os fronteiros de forma inversa: permite ganhar uns bons centímetros para esticar os pés, coisa que para quem vai lá passar uma noite inteira, é conforto, é precioso, e agradece-se a lembrança.
Sigo para a estação, para apanhar o de Paris. Tenho já escritos quatro posts enormes."
(a mesa estava posta aqui, e eu servi-me)
3 Comments:
Web, cá para mim não tens comentários, em nenhum dos três 'posts', porque as pessoas que já viajaram não se conseguem rever na tua viajem... mas, continua, que a ficção também é falar do que não se conhece - beijo, muf'. Depois, logo te digo se em Paris acretaste nalguma que seja real lol.
engraçado Isa: ou sou vesgo ou escrevo que nem um cepo.... é que eu estpou em Paris, dei aqui um saltinho pelas saudades do blogue. E, se queres(m) saber, sim, já passei por baixo da Torre, mas nada se passou de especial para tirar-lhe uma 'fotografia'. Idem para tanta coisa que não vale a pena falar. Não se revêem? ok, duas pesssoas lado a lado vêem mundos diferentes. O meu é visto pelas janelas do comboio, e com muito silêncio. Raramente tenho 'conversado' com alguém pois não ando aqui, a mais dum milhar de quilómetros de casa para cumprir o anúncio do IR, "fazer amigos". É outra geração a k flutua nas mesma vaga, é outra(s) língua(s) e costumes. E nem que fosse a minha...
Tenho visto, olhado para os pormenores, ouvido e tentado perceber o que as pessoas dizem e porque o dizem, como vivem. No resto... vou sobrevivendo e tentando conter-me no lamuriar para o blogue, acho que ainda n falei em como me doiem as costas pela manhã e como tenho os pés inchados de dormir meio-sentado, coisas assim. Mas isso n é matéria de post, nem isos nem os monumentos. Sim, a belíssima baguete de salpicão que comi hoje, 3,25 €, com duas cervejas de copo (2x 1,50 €). Isso sim, a sandes estava magnífica. Agora vou fechar o comentáriuo-post, ainda tenho de ir a Austerlitz buscar um casaco à mochila pois está mais fresco que eu pensava. Ah!... o Metro é lindo, mas é 'só' mais um comboio gigante. E de comboios já estou a ficar farto, ainda me faltam 17 dias e meio... (os chapéus dos bófias são ridículos, k mais haverá a dizer? esta tarde vou ver o rio e fazer umas explorações by linha de M)
Beijinho para todos aí, abraços aos mangussos.
lol, bou-me...
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