a capoeira e os ovos
Fui visitar a grande capoeira do Euro Milhões. Vi galitos e galarós, bastantes poedeiras prontas a inundar as estradas com ovos iguais uns aos outros, gemada que antevejo terá mais a cor de Portugal, “cinzento metalizado” (irra!), que o arco-íris que fabricantes bem intencionados tentam promover-nos para animar e dar alegria ao nosso triste terreiro, pago a prazo de sessenta meses. Debalde. No Salão o carrito é muito bonito em amarelo torrado ou azul celeste, mas na hora de ‘largar a nota’ opta-se pelo “cinzento metalizado” pois assim fardado será mais fácil vendê-lo daí a sessenta meses, tal como a única vaidade quando se estaciona ao pé de casa é ter uma matrícula mais recente que a do vizinho. Repito o irra, mas prometo conter-me nas linhas que se seguem.
Claro que não andava por lá sozinho, e era inevitável virem-me da multidão ecos , mesmo cerrando defesas ao gentio. É mais difícil encontrar um verdadeiro gourmet, até porque, esses, estão por demais atentos ao degustar que em perderem tempo em abrir a boca a garfadas de miudezas, que a tal agulha no tal palheiro, vizinho deste terreiro da nossa capoeira. Ora, daqui e como já deverão ter entendido, mas deixo escrito para qualquer incauto by Google vir a ler o que gosto de ovos mas sou complicado quando toca a omoletes: falo da FIL pavilhões 1 a 4, do Salão Automóvel de Lisboa, 2006. Escrever é deixar registos, não segredos escondidos.
Se entendo que um aficionado esporádico, bem intencionados que compram a revista semanal e sonham-se actualizadíssimos especialistas em design auto, confunda o muito recente 599 GTB Fiorano com um 612 Scaglietti (enfim… vistos de ‘caras’, ninguém dirá que não são irmãos germanos), já me complica a centralina ver uma multidão em volta dum Enzo (clap-clap-clap, o bruá da multidão) mas poucos prazeres à mesa com o Ford GT. Cegos ao universo para além dos néons.
Reparo e não evito, mais que incómodo, irritação, que as formigas correm os cestos para ler nos rótulos o P.V.P. sem cuidarem de saber o que é um carro com 450 cv, ou 600, ou qualquer outra característica técnica que justifique o que vale o número que lêem, babando-se. Os velhos cifrões a fazerem brilhar os olhos, relativizando se o objecto de cobiça lhes serve à refeição ou se será indigesta. Ou escalfados, até. Nada disso conta pois o único sonho é o mais caro, se possível em cinzento metalizado. É a capoeira do Euromilhões, não!, eu não me enganei no rótulo à porta: a ambição em ‘ter’ não tem critério de qualidade ou de necessidade. Basbaques que se sentam à mesa dum 3 estrelas Michelin e escolhem, na santa ignorância e no medo de serem ‘descobertos’, o prato mais caro da ementa, sem cuidarem se os espargos lhes podem cair mal ou as trufas não serem bem aquilo que pensavam que eram, órfãos da fiel tasca onde se estaciona o Punto ou o Clio, e se come um “frango à cafreal” à maneira… Diz-me como comes a vianda e eu te direi se te faço ou não um esparguete…
Assim, continuei a visitar as aves, altamente preocupado com a sua gripe. Tanta avidez insensata, tanto menosprezar da qualidade, que preocupante cegueira aos pormenores que fazem a diferença entre um beijo ou uma ternura, da salivosa sofreguidão do cio ou da animalesca palmada nas nádegas da fêmea que se oferece, ciosa sim mas duma carícia. Falta elegância, há um excesso de monótonos pronto-a-vestir nas galerias mais populares.
Por falar em Euromilhões, ao chegar ao Pav. 4 da mostra (até bem recheada atendendo ao micro mercado que somos), paro a olhar o stand da Mercedes e ponho-me a pensar como é possível os dois irmãos avicultores de Moreira de Cónegos, bolsos a alagar em €uros, conseguiram minguar a criatividade de novo rico a servirem-se dez vezes seguidas do mesmo menu, transformando um banquete em dieta. Dez. Os manos do €uro Milhões compraram 10-dez-10 Mercedes-Benz. Dez… sendo mau e malandro, até me pergunto de quantos em ‘cinzento-metalizado’… Imagino como serão as suas relações com as aves de rapina bancárias, por esta tendência em porem tantos ovos no mesmo cesto… e também pelo critério: além de malta que ficará desiludida se num improvável dia visitarem um Museu e não virem preçário para, então, soltarem ahs de admiração perante a galinha mais gorda do aviário, também prenunciam um medo de arriscarem além do seu universo que, correndo bem um investimento exploratório num apartamento que compraram para revenda, logo soltam amarras e compram o bairro inteiro. Enfim, que sejam felizes, mas que não desertifiquem demais a paisagem pois isso costuma ser muito mau para a existência de oásis: ficam muito raros, principalmente quando precisamos de nos acolher num.
Os pés doíam-me mas só me sentei uma vez. Este ano eu sabia que estava safo de apanhar ataques de cólera, pois não deixaram entrar o lobo mau, o inarrável e abominável Chris Bangle. Avé pela ausência do terror da minha capoeira! Gostei do Skoda Yeti e do Moovie, como concepts, do Altica assim assim. E espantei-me por na multidão em volta do Nissan Terraplane os olhos não largarem os pormenores decorativos e nenhuns se perderem no seu pormenor mais revolucionário e quase inovador: os pneus, que mudam a configuração do seu traçado, o ‘piso’, conforme as circunstâncias de rolamento. O ovo recheado que é cobiçado pelo laço, não pela clara e pela gema do seu conteúdo. Estão a ver? Eu lá para cima avisei que tenho uma relação complicada com as gemadas.
E agora a minha escolha, não podia terminar sem contar dos sonhos pessoais: o Bentley Continental GT ainda não foi destronado. Tem ‘pinta’, é bom e faz qualquer um que o conduza sentir-se bem, e tem quatro desenrascados lugares. E é caro, descobrirão os vizinhos, já agora… Enlouquecendo com o Euromilhões nas unhas, aí ia por dois, um egoísta e outro familiar: este é fácil, e o Maserati Quattroporte fazia delícias com ovos que nem os conventuais. O outro…. Bem, é assim: dos que lá estavam hesitaria entre o Gallardo descapotável e o Cayman S, da Porsche, que descobri com grande satisfação num canto dum pavilhão e a fazer pub sei lá a quê, desapontado que estava de não ver por lá a Porsche, quem sabe se um Carrera GT… Mas havia um ausente, o Morgan, que é sonho eterno desde que nos vimos.
No registo dos tão invocados “sonhos terrenos”, fazia as sessenta prestações na Volvo V50, azul clarinho e interior creme. Não é um Mulliner: "paciência…", pensei, quando me atirei à Telma.
(encontrei o cartaz pendurado aqui, e gamei-o)
2 Comments:
Ora e eu pensar que ia ver uma reportagem com fotos e tudo e tudo e tudo...não, só mal-dizer. Homem um carro é para nosso conforto, para nos levar aqui e além...para sonhar tenho outras coisas, ou não temos? chapa pintada e um motor que a faz andar...e não digo mais nada que estou amuada por hoje ser feriado, o tal do trabalhador e eu estar no trabalho e quase às moscas...irraaaaaaaa.
Uma que tem um Yaris cinzento-metalizado...lol
Estava quase a ser a primeira mas a Th ultrapassou-me!!!(Olá Theo!Beijinhos.)
Prego a fundo e aí vou eu,mas deixo-te "fumaradas"de beijinhos.
Beijinhos também à tua prole que é muito bonita.(Tufas incluída claro)
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