terça-feira, outubro 17, 2006

sobre o referendo



Despenalização das mulheres que abortam, um sim sem hesitações; mas com uma reserva: não das parteiras/abortadeiras de vão de escada, os abutres deste negócio.

Liberalização completa do aborto, claramente não. Esta e aquela são duas situações distintas e nesta discussão periódica acerca do "sim-não ao aborto" aparecem sempre erradamente misturadas, viciando a discussão. O aceitar uma não implica levar como bónus a outra.

Há a pílula para o antes, agora também a pílula do dia depois. Há preservativos à venda em cada esquina. Dêem-nos, o custo da oferta é uma gotinha para o défice-Portugal. Há educação sexual como "no nosso tempo" era inimaginável. Já há uma lei que permite à mulher o aborto em situações graves, nela tipificadas (ex. a violação). Falta o quê? um bocadito mais de responsabilidade. Trata-se de Vida, não de decidir se se quer ir ao cinema ou à bola;

E uma pergunta: o homem-progenitor porque é que nunca é referido como parte interessada na decisão? pelo menos ouvida a sua opinião, se conhecido e contactável? Auscultado sobre o que pensa, que expectativas aquela maternidade-paternidade lhe criavam...

Sei que as posições nesta matérias são e serão sempre irredutíveis, até fundamentalistas; extravasa, infelizmente, as convicções pessoais. É uma discussão que sempre foi intrumentalizada e esta em curso assim será. Aliás, já começou. O referendo sobre o aborto foi tomado de assalto pelo governo em funções como se fosse um referendo a si próprio, juntou-se-lhe o nefasto "ganhar" e "perder". Está o circo montado, as centrais de informação/desinformação começaram a trabalhar. Houvesse informação isenta e sanidade de juízo e a consulta seria justa. Mas duvido, duvido mesmo muito que assim venha a ser, quer por um ou pelo outro lado. Acresce que há os resíduos dos ícones a fazerem sombra: 'fica mal' a um "esquerdas" defender o 'não' e vice-versas a um "direitas" pugnar pelo 'sim'. Os ícones, o políticamento correcto, o mais uma vez se permitir que as matrizes ideológicas condicionem o julgamento reflectido, em consciência.

Adivinho que a discussão nacional sobre este referendo venha a ser um nojo, racionalmente pornográfica e portanto apta a deixar roxos e roucos de excitação os suspeitos do costume. Infelizmente não estou enganado, oxalá estivesse. Oxalá cada votante - dum ou doutro lado, é indiferente - pudesse fazê-lo, votar, com a certeza de que estava informado e não intoxicado. Oxalá, mas isso não vai acontecer com a maioria dos votantes. Seria uma completa irresponsabilidade os nossos 'pais ideológicos', dextros, canhotos ou tosta mista, darem-nos liberdade de voto, permitirem-nos pensar sozinhos. E eles não são parvos, esse papel já tem dono e nada de confusões.
(imagem daqui)