sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Os brinquedos com que não brinquei

Assim de repente lembro-me de dois que estão lá em baixo guardados, brinquedos com que não brinquei e devia tê-lo feito: um, um avião de montar, um biplano amarelo, caixa grande e preço baixo pois vendido com o aviso de que poderiam faltar algumas peças. Outro, as folhas em cartolina dum 'Estádio da Luz' para recortar e colar, ainda existia a Telecel e não a Vodafone e vinham com o jornal, ainda existia o antigo estádio onde uma tarde de sábado levei o meu filho, ele então ainda com asas muito jovens mas já 'águia' indefectível. Era o Mário Wilson o treinador principal por último recurso, tinha saído o Autuori e mais não sei quem e jogava lá um brasileiro loiro que era afamado mas disso não passou, e o Benfica, então, andava pelas ruas da amargura: lembro-me de as coisas correrem mal lá dentro e, cá fora, no banco (estávamos mesmo ao pé) o Wilson olhava para o campo e para o banco, fazia uma cara de resignação e dava até a impressão de suspirar. E havia uma mulher, amalucada como verão, que passou a santa primeira parte inteira a acompanhar as corridas do fiscal de linha para cá e para lá para melhor insultá-lo, 'filou-o' mal o jogo começou e esse, jogo, terminou para ela logo aí: era indiferente ao que se passava com a bola, ela só tinha olhos para ele e voz para lhe chamar de filho-da-puta para cima e para os lados: toda gente se ria, e ao próprio mimado não era indiferente a trombeteira de bancada, expert em fiscais de linha.
Os dois eram brinquedos para brincarmos em conjunto, montá-los no tal trabalho de equipa pai-filho que todos os pais sonham, seja para construir estádios ou levantar asitas e voar. Não o fiz, não o fizemos. Dificilmente o faremos pois nem o estádio já existe nem ao avião nasceram peças: pelo contrário, o mais certo é nestes anos de pó e arrumações, mudanças até, mais algumas se terem perdido e, ao novo estádio, sempre podemos ir lá quando quisermos, quando noutro sábado calhar. Mas nestes anos todos sempre pensei, lamentei, silenciosamente, estes dois brinquedos com que não brincamos e devíamos tê-lo feito, Miguel. Lembrei-me disto agora e estou a contar-to, sei que mais dia menos dia virás ao blogue e lerás. Havemos de ir ao estádio, ao novo, quando voltares, e o avião guardamo-lo para filhos ou sobrinhos, ok? Um beijo meu.
(caixa de avião parecido com o que está lá em baixo, daqui)