quinta-feira, dezembro 14, 2006

Sobre... - VII

(extraído duma 'discussão' sobre o tema num Grupo MSN)
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"... en passant sobre a mensagem do Z.M., só pela razão de não confiar a mínima em 'sondagens' e 'amostragens', onde concluem-se certos números avançados como fiáveis. A exemplo, o número de abortos clandestinos praticados em Portugal que, de repente, saltaram duns até agora mais ou menos consensuais 11.000/ano para estes últimos números, estarrecedores e de fazer chorar as pedras da calçada, trinta mil... Entendam-se. Até lá dou de barato e não confio em 'amostragens'.

Sobre o "início da vida", e como referi logo à entrada da minha participação na discussão da legalização/descriminalização do aborto, não me meto por aí pois é terreno movediço demais, principalmente para um peso-pesado como eu que, não tendo nem aspirando a asas de anjo e já careca de ver as verdades científicas de ontem serem hoje desmentidas, aí enterrava-me irremediavelmente. Por aí não discuto, só observo, num misto entre o temeroso e o indiferente pois outra posição não me é possível quando entram em liça argumentos de fé religiosa ou pretensas verdades científicas. A Lei diz que o ser humano adquire personalidade jurídica ao nascer e acho esta posição legal absolutamente prudente: não exclui que o ser humano já existe antes do seu parto - desde quando? pois é... - mas só lhe confere posição e direitos consentâneos com a "vida independente" quando abandona a posição de feto e passa a, entre outras coisas, alimentar-se e respirar 'por conta própria' - passe o exagero.

Já a reflexão que avança que só as mulheres deveriam votar neste assunto tão.... "feminino"... essa deixa-me (outra!) num misto de repúdio e de profunda maturação intelectual. O argumento deixa-me sempre confuso. Por um lado assiste-lhe a razão lógica e natural de serem 'elas' que transportam o feto até ao nascimento, e, por vocação animal e tradição cultural lhe asseguram os cuidados primários de sobrevivência após o nascimento, até mais além da óbvia amamentação.
Por outro há o meu velho complexo de macho que refila e reclama por, a exemplo na lei em vigor e na projectada em discussão, a sua opinião ser desvalorizada e até ignorada, reduzindo-o(-me) ao, então, incómodo papel de 'macho reprodutor', uma espécie de barrasco que após ter cumprido o seu papel inseminador é levado de volta ao curro e nada mais risca no assunto. É desagradável, roça o ofensivo.
O sexo humano é essencialmente um acto de amor entre dois seres, o macho e a fêmea. Há cio mas também há sentimentos. Para decidir sobre o destino irreparável do ocasional fruto desse acto de amor uma das partes é liminarmente afastada. Como se ela não pudesse nutrir sentimentos especiais sobre esse gérmen de vida, um 'feto' que, tudo a correr naturalmente bem e de acordo com leis animais naturais, daí a meses ele o olhará e chamará de seu filho. Isso não conta para nada nessa tal posição de exclusivamente a fêmea grávida decidir, de só as mulheres votarem. Isso magoa-me para além da potencial racionalidade do argumento..."
(imagem idem, ibidem)

4 Comments:

Blogger Kagemusha said...

fotografia interesante!

2:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A mim choca-me, igual e profundamente, que alguém chame a IVG de assunto "feminino".
Pelas razões que aponta.
Gostei de passar por aqui e ver ideias tão bem expostas e argumentadas.

3:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Voltei aqui para "copiar" um pedaço desta boa prosa.
Espero a generosidade do perdão.

9:40 da tarde  
Blogger Carlos Gil said...

à vontade t.a., à vontade... fosse por outras razões outras prosas, mas as coisas são o que são. para juntar à carga há um abraço, também
:-)

12:42 da manhã  

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