terça-feira, dezembro 12, 2006

O chinfrim e o arraial

Quando as discussões atingem o grau de arraial tento afastar-me do barulho de fundo, o chinfrim, e busco dados ‘científicos’ que respondam às grandes dúvidas que mantenho. Depois, e quando calha, ainda me perco em frívolos exercícios intelectuais acerca da “política” e suas estratégias. Que as há, sempre: elas é que dizem ao bombo quando deve tocar para o chinfrim.

Leio aqui e ali e procuro principalmente factos e testemunhos fundamentados, científicos, a tal “razão de ciência” que, na barra judicial, desnivela os testemunhos e acrescenta-lhes valor acrescentado quando sobre determinado facto controverso há versões distintas e antagónicas.

Depois e para não ficar mudo cabe perguntar, não vá dar-se o caso de, com o chinfrim, ficar surdo e cego, pouco apto para votar de forma mais digna que em manada. Assim:

- é verdade ou é mentira que nos 1.426 internamentos hospitalares por aborto realizados em 2004 (último ano com estatísticas), 56 se deveram a infecções sendo os restantes 1.370 causados por “aborto incompleto ou retido”, leia-se aborto natural do feto? e, felizmente, sem nenhum caso mortal registado?

- é verdade ou é mentira que todas as mulheres que até hoje tiveram de responder em inquérito judicial tinham abortado com mais de dez semanas de gravidez? e que não há, mais uma vez felizmente, sentenciada uma única pena de prisão entre as mulheres que abortaram? que os únicos casos em que houve prisão efectiva decretada respeitam a “abortadeiras”, as sanguessugas deste ‘negócio’?

- e é verdade ou mentira que, se o “sim” for maioritário no referendo, a pergunta anterior eternizar-se-á, mantendo-se a ameaça de cárcere para os abortos de “dez semanas e um dia”? que, também por aqui, o chinfrim é estéril pois a invocada humilhação do trâmite do processo judicial manter-se-á?

- pergunto ainda se é verdade ou é mentira que a tão invocada legislação espanhola - sendo pacífico que é posterior à portuguesa e dela copiada com alterações mínimas, só é “bandeira” porque, sendo lá o ‘mercado’ maior, as clínicas particulares abriram-se a essa especialização cirúrgica e a publicitam numa agressividade empresarial que, por cá e felizmente, não há?

- que cá, e a exemplo, numa conhecida clínica da região coimbrã, a de Oiã, praticam-se legalmente entre 500 e 600 “IVG’s” anualmente? com preços assumidos publicamente entre 450 e 500 euros por acto médico, um pouco longe dos honorários cobrados pelos nossos vizinhos e hermanos, certamente também parcimoniosos mas adequados à sua realidade salarial? é assim verdade ou não que as modas pagam-se, e vai a Badajoz quem quer, ou quer comprar caramelos?

- é ainda verdade ou é mentira que há consenso entre os profissionais de saúde dos estabelecimentos públicos que, estando este desgraçadamente falido e a rebentar pelas costuras com listas de atendimento que se eternizam mais que muitas das doenças que era suposto tratarem, não haverá nem a curto nem sequer a médio prazo capacidade para atender eficazmente (o tal prazozito das dez semanas…) “abortos a pedido”? com o agravo de os blocos de partos dos hospitais distritais estarem a ser extintos nas zonas em que a estatística demográfica assim o aconselha? e que uma “IVG” não é mudar um penso ou receitar um remédio para a tosse, é uma intervenção cirúrgica especializada avisadamente a não ser feita por um qualquer ‘João Semana’ ou por um conceituado otorrinolaringologista?

Tantas dúvidas... esta é a última: é verdadeito ou é falso acreditar e dizer que as sondagens valem o que deseja quem passa o cheque, e amostragens há para todos os gostos que o cliente cobice?

São dúvidas Senhores, não são rosas…

Mas, falando de rosas, será verdade - ou ando a fumar coisas esquisitas... que o PS-Governo (pois: não há um PS; ou dois: há vários…) precisa, carece, urge, de hastear uma bandeira de vez em quando para lembrar ao Povo que o arraial, afinal, é “de esquerda”? para contrariar a opinião pública, essa empírica e ingrata vox populis, que afirma berra e protesta que na barraca das rifas “só saem duques” todos os dias? e nada há melhor que uma “causa histórica” ressuscitada para por a manada em movimento, o chinfrim?

Viva então o chinfrim. Eu também quero, também gosto de dar uma perninha na dança. Mas, caramba! Podem responder-me por favor?

Antecipadamente grato e sempre atencioso, o vosso

Carlos Gil

(com números médicos e inspiração recolhidos numa crónica de hoje no diário “Público” e assinada por um licenciado em medicina, outros números consultando bases de dados do Ministério da Justiça)

(o meu camarada “confuso” estava aqui)