domingo, agosto 20, 2006

"fazer a mala"

(da primeira à última linha é ficção com excepção das mencionadas ofertas blogo-amigas, que ainda há quem também acredite que as melhores realidades são as antes sonhadas)

Uma mochila com duas camisas e umas calças, um necéssaire para os mínimos da higiene. Como vou de sapatilhas ou sandálias não preciso de meias e quanto a trapos íntimos vão somente três ou quatro cuecas, dois lenços de bolso. Sim, levo a máquina fotográfica comigo mas dispenso qualquer mapa – digo com desdém presunçoso… Por segurança face ao intermodal que tenciono praticar na viagem vai igualmente um rolo de papel higiénico e uma garrafa de água. E chega, que as minhas costas nunca foram especialmente robustas e os anos já ninguém lhos nega, principalmente eu que tenho momentos em que os sinto bem presentes.
Na sacola de tiracolo, a minha habitual mini mochila onde cabe tudo, vão somente os documentos e o money, um livro dos grandes para as muitas horas até aportar ‘lá’, mais os óculos suplentes/de sol, o Moleskine e duas canetas, um utilíssimo canivete suíço (nem que só seja para ajudar à ficção ele é indispensável, absolutamente!), e talvez um mini guia de conversação em inglês para facilitar qualquer atraso ou complicação no apanhar o 'chapa' para ‘lá’, quando sair do pássaro de ferro; não esquecer duas ou três doses de medicamentos para emergências pessoais possíveis de virem chatear. Acho que não preciso de mais nada pois o tabaco e os jornais compram-se pelo caminho.
Agora o guião dos saltinhos até chegar a Maputo: a incógnita ainda está no primeiro, daqui até Londres, Heathrow mais precisamente: já sondei o meu vizinho Zé Folgado que é camionista de longo curso mas ele não tem feito viagens para Inglaterra. Em lowcost de companhias aéreas caio sempre num dos maiores perigos desta coisa de nos aventurarmos para longe de casa que é o andar de avião: tempo para filosofar no porquê de certas espécies animais terem nascido com asas e outras não chegar-me-ão as muitas horas Londres- J’burg. Daí a Maputo poderá ser em ‘chapa’ que, já me soou, rondará os 50 USD, e encho a barriga de paisagem rural africana. Quanto à tal primeira parte, de Almeirim a Londres, essa ainda está indecisa e se calhar é desta que faço uma versão compacta do inter-rail, big túnel da Mancha incluído para dar azo a esgalhar uns tramas romanceados quando, já então vero madala, olhar para a mochila e recordar a aventura de aos cinquentas regressar a Maputo. Pensando melhor, quer a primeira como a terceira parte da viagem poderão e deverão ser em comboio pois por cá e no início vou nele de casa até Heathrow, e de J’burg a Maputo também é viagem com vantagens se comparada com em machimbombo, o ‘chapa’: os comboios têm uma magia própria, e uma viagem neles por “meia” Europa e pelo sul de África serão sempre tão recheadas de pormenores peculiares que forçosamente serão mais ricas e inesquecíveis que num enlatado aéreo. Nada de ‘Blue Trains’ (lá) e TGV’s (cá), que são andamentos fortes demais para o meu arcaboiço: em comboio ‘normal’, expressos, é sempre uma viagem confortável e nada por aí além que ofenda o orçamento à minha mochila.
Não falta quem blogue-ajude e empurre a este “mind-bungee jumping”, sei lá se salto com elástico resistente q.b. para a minha mochila aguentá-lo ou não… há p’raí já um ano que tenho oferta de “cama, mesa e roupa lavada” e mais recentemente houve quem falasse em “caranguejo et al”... Mesmo quanto à tal terceira e última etapa, se na primeira hipótese que coloquei era o ‘chapa’ o meio de transporte a utilizar, muito recentemente ficou a esvoaçar possível alternativa personalizada, pelo que é melhor juntar mais roupita à mochila pois isto já se assemelha a bloguista ‘visita de estado’ e não será de bom ponto reentrar em Maputo com a mesma pose e visual com que de lá saí, então ainda LM, aos tais trinta anos atrás :-)
O importante na bagagem é quem a carrega, a vontade de guiar os passos, o sonhar ser motor que possibilita vir a acontecer o milagre de reencontrar os pedaços dos fios cortados tanto tempo atrás, e tentar dar os nós possíveis a um hiato de trinta anos; perceber pontas da história pessoal que são incómodas no pronto-a-vestir do quotidiano, quiçá as obsessões e a recorrência de certos sonhos, o porquê de alguns resmungos, tantos públicos mas muitos mais que ficam íntimos, quer duns quer doutros. Até porque – e comecei por escrever assim, as melhores realidades são as que foram antes saboreadas em sonho, mochila feita com vagar e gosto e recheio sonhado peça a peça carinhosamente arrumadas no melhor bocado do dia, o da hora dos sonhos e das ilusões. Eu em Maputo 'um dia destes'? talvez, talvez... ora deixa cá ver: duas t-shirt's e os documentos, o raio do money, o cadernito e a caneta...

3 Comments:

Blogger th said...

Raio! também eu comecei a sonhar uma viagem assim, mas com comodidades próprias para a minha idade (força e disposição).
em vez da mochila um pequeno troley que a roupa é leve, com a vantagem de poder ser lavada e seca no mesmo dia. O resto...se verá!
O comboio sempre que possível é boa opção, mas não dispenso um bom Hotel...
Agora vou sonhar com o resto...ah! preciso de companhia, alguém que me apoie e não exija demasiado de mim...o resto se verá.
eu, alguém para quem os sonhos já são uma ténue recordação...th

3:25 da manhã  
Blogger Carlos Gil said...

a tua última frase é uma mentira ainda maior que tudo o que escrevi, th! Não, raios! não! há sempre sonhos novos que substituem outros, há tanto sonho por ter, Th! tanto, tantos! nele realizamos, nele VIVEMOS!!!!!

4:26 da manhã  
Blogger th said...

Tens razão, são apenas diferentes...sem tristeza, th

12:44 da tarde  

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