sim, vou dizê-lo
Tenho medo. E confesso-o sem medo, curiosa contradição. Do mítico Futuro, esse andarilho que ainda não desembarcou para caminhadas de que não sei rumos e paisagens mas que em cada passo dos de ora avisa que está já já chegando, não tarda apeia-se e vai-me dar a obrigatoriedade do seu braço, impor-me andamentos que, receio, a quietude que uso não conhece e não gostará de trilhar. E tenho medo de não ser amado: há um desespero por sê-lo, joke, sempre uma joke que oculte o vazio onde esponjo no medo, da rejeição, do ostracismo, de ser ignorado e ser-me imposta pena de chafurdar na vulgaridade, de o fim vir a ser igual ao antes, futilidades tantas que comunguei e hoje me enojam. Talvez seja por isso que sou blogueiro, que sou o 'web', que os meus olhos estranham quando não estão a olhar para um monitor e piscam, temerosos. Também de ser uma desilusão, e tantas vezes sou injusto com os que me dão o seu carinho à maneira do antes, cara a cara e com um sorriso franco, ao amaldiçoar os dias em que apaguei o écran e me dei a conhecer 'ao vivo', tão ridículo que me olho lado-a-lado no contraste com a fluência e bondade bem-pensante que escrevia. Escrevia. Afinal, ao criar-me também cavei os alicerces da desilusão, obra que ninguém embargou e que cresce, cresce... E espanto-me, admiro-me e mal aceito que, afinal! haja quem goste de mim mesmo sem a net-máscara, aí choro pelo injusto que sou, indigno, esta dupla desilusão. "eu tenho um blogue"... eu tenho o quê?
Esta a ponta do Meu Medo, eu tenho é esta ponta dum novelo que tenho medo de desenrolar pois na minha memória estão alguns dos seus nós e de como foram atados. O meu imenso egoísmo, este também fel que sempre me alimentou e é tubagem cristalizada, a acidez que me faz rabujo, ingrato, o tal senhor de Hyde destoutro que escreve, autor e personagem que não casam, vivem em comunhão de interesses, meio passo dado para andarem à estalada quando o Presente estremece em grau que vá além deste inócuo 1024 x 768. Estive quinze dias, ou mais, sem escrever publicamente. Na net, mas em quase silêncio, em resguardo de medos, manta de mim. Vagabundeei pelo antes, trilhei caminhos e sentei-me a mesas que abandonara. Odiei cada segundo: vivi a realidade, a boçalidade que me repugna, o ouvir os papagaios apalermados que falam sem pensar (e... sabem-no? fazê-lo?) mas têm bonitos trinados, chafurdei na vulgaridade. Voltei arrepiado, assustado. Com medo. De ser assim o amanhã, de ter de dar de enfiada tantos nós cegos no novelo que ele me venha a engolir, adeus CG, adeus tanto e olá medo, um olá amargo de regresso ao charco, aprender a coachar, talvez um dia saiam trinados, essa suprema humilhação de se ser 'aplaudido' pela vulgaridade, a boçalidade. Medo, estou a contá-lo.
Ou se calhar não: este Medo é bem-vindo, têm razão todos os que dizem, cara dos parvos que são e sorriso dos cínicos que sempre foram, que o mundo da internet é uma ilusão, jus à tradução simplista de virtual, que nela vivem os frustrados, os falhados, todos os que não são capazes de trinar baboseiras com a pose alarve de quem vive devoto doutro tipo de 'aparências', as ditas reais, fato-gravata e cartão dourado.
(Na imagem 'o grito', de Munch, imagem gamada aqui, aproveitando para declarar publicamente que é tela que não está na minha posse, só sou ladrão do seu espírito)
3 Comments:
CARLOS
medos, receiros, desiluzões e outras tais, quem não tem?!!!
eu tenho, mas não resisto , volto e apanho tantas quantas forem preciso, mas sabes amigo, dentro de todas tem sempre um AMIGO(A), que nos enche de carinho, lendo, brincando rindo até chorando.
Obrigado pelos medos eles têm me feito crescer um tiquinho , ehehehehe BEIJÃO
Entre parvos brancos,cínicos pretos,estendem-se, decompondo estas cores, mil e uma cores e suas matizes e por isso a vida, o mundo e as pessoas são belos...realmente....ou virtualmente.Xi
Como disse Tareca, quem não tem medos, fantasmas, ansiedades?
Às vezes são injustificados, outras vezes cheios de razão de ser...
Todos acabamos levando pancada na vida e, importante realmente, é levantar e caminhar de novo, ter sempre uma réstea de ânimo, para o dia que vem a seguir. Importante mesmo, é acreditar que esse novo dia pode até ser maravilhoso.
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