quinta-feira, julho 06, 2006

"um sorriso para Cibele"

Aqui não há nada, Cibele,
a não ser uma alameda estreita
com renques de flores à esquerda e à direita.

As flores são daquelas de que eu não gosto, Cibele.
Pretensiosas.
Zínias, dálias, crisântemos, margaridas e rosas.
As flores de que eu gosto são das que ninguém planta nem semeia,
daquelas que a gente passa e diz: "Olhe, faz-me favor.
Sabe-me dizer como se chama esta flor?"
Não gosto delas, não,
mas à falta de melhor, Cibele,
é nelas que cevo a minha solidão.

Todas as manhãs quando aqui passo para as ver
acaricio-as à flor da pele
e balbucio as palavras que ficaram por dizer.

Assim se vai passando o tempo, Cibele.

António Gedeão

(a belíssima fotografia de Pablo Herrerías estava neste blogue)