daltonismo - discromatopsia
"A utilização corrente dá o nome de daltonismo à perturbação visual que impede a distinção, quer de todas as cores entre si (acromatopsia), quer, mais exactamente, de várias cores umas das outras, nomeadamente o vermelho e o verde, ou determinados vermelhos e determinados verdes (discromatopsia ou daltonismo propriamente dito). Foi o físico inglês John Dalton (1766-1844), um dos maiores homens de ciência de todos os tempos, verdadeiro criador da teoria atómica moderna, quem principalmente pôs em evidência e estudos esta perturbação, de que ele próprio sofria.
Hoje em dia, admite-se que ela afecte cerca de 2% dos homens (mas, em troca, muito poucas mulheres). É em regra congénita ou hereditária, e muito raramente adquirida. No estado actual dos nossos conhecimentos, supõe-se que vem de uma diferenciação incompleta entre os cones e os bastonetes da retina, ou então de conexões deficientes entre esses músculos e certas fibras do nervo óptico (recordemos que os cones reagem às vibrações mais longas - vermelhos, alaranjados - e os bastonetes às vibrações mais curtas - verdes, azuis). Não se trata de uma doença, mas de uma afecção que, apesar da sua pouca gravidade, impede o exercício de certas profissões, principalmente daquelas em que existe uma forte utilização de sinais coloridos (aviação, caminho de ferro, etc).
O historiador e antropólogo ficam muitas vezes perplexos perante os estudos ou experiências consagrados ao daltonismo e às outras anomalias da visão das cores. O primeiro não pode deixar de constatar que John Dalton descobre a sua confusão do vermelho com o verde no preciso momento em que, na cultura ocidental, graças aos trabalhos de Young, de Goethe e de alguns outros, e à adopção (definitiva?) das noções de cores primárias e de cores complementares, o verde se torna um dos contrários do vermelho (coisa que nunca tinha sido anteriormente). O antropólogo, por sua vez, pergunta a si mesmo o que é a visão «normal» das cores e o que podem chamar-se «anomalias na visão das cores». Ele sabe que a visão das cores é um fenómeno de percepção, portanto cultural, que varia no tempo e no espaço, que não é idêntico em todas as sociedades e civilizações. Sabe também que é difícil determinar as cores sem passar pela linguagem, que o nome da cor faz parte integrante da cor, e, sobretudo, que não temos nenhum meio de saber se, quando e como há adequação, para um ou para vários indivíduos, entre a cor percebida e a cor denominada. Ele interroga-se, portanto, acerca da validade dos testes e dos aparelhos colorimétricos que se propõem revelar essas pretensas anomalias. Falar de diferenças em vez de anomalias seria largamente suficiente.
O sociólogo, por sua vez, observa que o daltonismo é uma perturbação que está na moda em certos meios, em certos momentos. Nos anos cinquenta e sessenta, entre os pintoreds «avant-garde», era do maior chique dizer-se daltónico. Mais tarde, foram os adolescentes quem, sonhando com a marginalidade em todos os domínios, reivindicou esta afecção. Talvez o nome dos irmãos Dalton, célebres e saborosos bandidos da banda desenhada Lucky Luke, pretendesse dar ao daltonismo a nobreza dos excluídos e dos reprovados? Hoje em dia, essas modas passaram: ser daltónico já não é uma façanha, e proclamar que se é daltónico já não suscita admiração ou interrogação."
Michel Pastoureau, "Dicionário das Cores do Nosso Tempo", Editorial Estampa, 1997
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ok, eu sou daltónico na variante da discromatopsia.
(bonita paleta daqui)
3 Comments:
Desde que não se veja tudo a preto e branco e que saiba onde está o vermelho no semáforo...
E tens pintado, oh sex da bicha do TUA? - bonita, a foto do nevoeiro, abaixo!, beijo, muf'.
Pois, daí que tenhas dito àcerca de um meu fato côr-de-rosa, que era verde "clarinho"...adorei o preciosismo.
A que vê a vida em tons pastel...th
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